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  • Belarus: eleição e crise na última ditadura da Europa

    Belarus: eleição e crise na última ditadura da Europa

    • Crise na Belarus
    • História da Belarus
    • Relação com a União Europeia e a Rússia

    As eleições na Belarus provocaram uma onda de protestos jamais vista naquele país. Manifestações essa que colocam contra a parede o regime que é considerado como a última ditadura da Europa. Neste texto vamos abordar brevemente a História da Belarus e o processo político atual.

    A República da Belarus

    A Belarus teve breve períodos de independência como Estado nacional moderno. Durante a Revolução Russa de 1917, a Belarus teve um breve momento de independência, quando se formou um Congresso que declarou a independência da Republica Popular da Bielorrússia, em março de 1918. No entanto, ela foi ocupada pelas tropas alemãs, mais tarde foi tomada pelo Exército Vermelho e integrada a União Soviética, como uma de suas repúblicas.

    Em março de 1990, com a crise da União Soviética, a oposição começou a ganhar espaço com a formação do Front Popular. Em 27 de julho de 1990 a Belarus declarou a sua soberania. Ao contrário do que ocorreu nos países Bálticos, o Partido Comunista, ou seja, a elite burocrática do país continuou comandando o processo político e dominando a economia.

    Com a Rússia e a Ucrânia, a Belarus participou do evento 8 de dezembro de 1991 que colocou fim a União Soviética e formou a Comunidade dos Estados Independentes. Assim, ao contrário dos países Bálticos que saíram da esfera de influência da Rússia, em direção ao ocidente, a Belarus e a Ucrânia permanecem unidas a Moscou.

    Portanto, observe uma questão importante: somente com o fim da União Soviética é que a Belarus teve a experiência de um Estado moderno soberano. Assim, a construção de um Estado nação se deu baixo a ditadura de Lukashenko. Esse fato levou-se até o questionamento se haveria uma identidade nacional Belarus e uma sociedade civil que poderia atuar.

    O governo de Alexandre Lukashenko

    Alexandre Lukashenko chegou o poder em 1994 e foi reeleito, 2001, 2006, 2010, 2015, formando um governo autoritário. Não faltam denúncias de violação aos Direitos Humanos no país. Através da violência, censura e mão de ferro, ele estabilizou o país formando uma classe de privilegiados, uma verdadeira oligarquia, sustentada pelas riquezas do país e em uma relação privilegiada com a Rússia.

    Apesar da aparente estabilidade, o regime começou a dar sinais de fragilidade. Um desses sinais, o mais evidente, se deu quando a Rússia ocupou parte da Ucrânia e tomou toda a Crimeia. A ideia de uma expansão russa continuada se tornou um pesadelo para a Belarus, como para todos os demais países que fazem fronteira com a Rússia.

    A invasão da Crimeia e a Reação da Belarus

    Após a anexação da Crimeia, Lukashenko pela primeira vez começou a discursar no idioma local. Seus discursos eram somente em russo, até então. O regime começou a apelar aos belarussos como uma nação e defender a sua soberania.

    Esse movimento fez com que o país se aproximasse dos países ocidentais, em particular dos países Bálticos e da Polônia. Acordos comerciais, educacionais e culturais foram estabelecidos no que parecia uma virada para o Ocidente.

    A virada para o Ocidente foi interrompida. Por um lado, a Rússia ofereceu certas vantagens comerciais. Além disso, diversos acordos militares com a Rússia, mas ainda com uma certa tensão, pois a ideia de instalar uma base aérea russa sofreu resistência. Em 2019, em um encontro com Putin, Lukashenko, em discurso coloca a ideia de união entre os dois países, ou seja, parecendo uma volta ao lado russo. Por outro lado, a União Europeia manteve restrições ao comércio com o país e criticas ao regime autoritário e as sistemáticas violações dos Direitos Humanos. Assim, o regime pareceu novamente pender para a Rússia.

    Resumindo, nos últimos anos Lukashenko tentou jogar dos dois lados observando de qual deles poderia conseguir maiores vantagens. Um jogo perigoso, pois seu autoritarismo nunca foi aceito pelos europeus e a sua relação com Putin não era das melhores, pessoalmente, ao que se sabe, Putin nunca teve apreço por Lukashenko.

    A Crise na eleição de 2020

    Essa situação piorou em 2020, com a pandemia, pois Lukashenko foi um dos líderes mundiais que entraram no negacionismo. Ele recomentou aos seus cidadãos: vodka, sauna e trator, como remédio para a Covid 19. O resultado, além de virar uma piada mundial, foi que sua credibilidade, já abalada, sofreu ainda mais ao se aproximar da eleição.

    O início do processo eleitoral se deu como sempre. Era para ser novamente uma eleição controlada. Em outras palavras, os candidatos seriam escolhidos a dedo, apenas com formalidade, e para dar ar de legitimidade. Os oposicionistas foram presos e exilados. Restou uma candidata que deveria ser a figurante nesse processo.

    A candidatura de Svetlana Tikhanovskaya era tida como um arranjo. Os demais líderes oposicionistas ou foram presos ou tiveram que escapar para outros países. .

    Assim, Svetlana Tikhanovskaya não faz parte de uma oposição histórica organizada contra o regime, pelo contrário. De toda forma, como ela era a única candidata houve uma união ao seu entorno já como uma forma de protesto contra ao regime. Na eleição, ela, que faz parte da elite educada, deveria apenas fazer a figuração para que se criasse a imagem de uma disputa legitima

    A propaganda eleitoral foi limitada, bem como as manifestações públicas. Cenas de manifestantes e de opositores ao regime sendo presos nas ruas vazaram para o ocidente e foram divulgados pelas mídias sociais.

    A Repressão e os Movimentos Grevistas

    Mesmo com a repressão e as limitações, a candidatura Tikhanovskaya encampou a contrariedade contra ao regime e houve uma união silenciosa para votar contra o regime. Esse movimento cresceu ao ponto de ser percebido pelo conjunto da população. Assim, no dia da eleição, ao fim da tarde, quando os primeiros dados eleitorais foram divulgados a desproporção dando a vitória ao ditador chamou a atenção. Era o indício da fraude que despertou os primeiros movimentos de protestos naquela mesma noite, sobretudo na capital Minsk.

    Nos dias que se seguiram, vimos emergir manifestações públicas cada vez maiores, reunindo milhares de pessoas em um fenômeno sem precedentes para o país. Essa movimentação foi seguida pela greve dos trabalhadores dos principais setores do país.

    As declarações públicas de Lukashenko geraram ainda mais protestos e sua aparição pública diante dos trabalhadores resultou em protestos e vaiais. Algo que ele não está acostumado a receber. A situação chegou ao patético do ditador apelar a Putin para uma eventual ajuda. Ou seja, a ameaça de intervenção russa voltou a circular.

    A Influência Russa na Belarus.

    A Belarus de Lukashenko sempre atuou na espera de influência da Rússia, sobretudo com Putin no poder. Por essa razão, vimos a cena patética de um presidente dizer que recorreria a outro para ajudar com o levante popular.

    No entanto, a Rússia tem os seus próprios problemas. Uma intervenção russa, como na Crimeia (ou mesmo na Síria), poderia resultar em reações tanto externa, como mais sanções econômicas. Lembrando que esse é um momento em que a economia russa passa por dificuldades, devido a queda no preço do petróleo e a pandemia. Além disso, a Rússia está lutando para uma presença de influência no cenário geopolítico, como pode ser observado com a questão da vacina, não por acaso denominada de Sputnik 5.

    Será que Putin estaria disposto a se colocar em risco para contribuir com Lukashenko? Ainda que Putin seja um estrategista repleto de surpresas e movimentos inesperados, uma ajuda a Belarus é um cálculo complicado não só pelas reações externas, mas principalmente pelas questões internas.

    O presidente Putin acabou de aprovar uma controversa reforma constitucional que o garante no poder perpetuamente. Esse referendo, suspeito, já provocou uma série de tensões no país. Recentemente protestos contra o seu poder foram registrados no extremo oriente da Rússia, na divisa com a China. Portanto, o cálculo envolve a seguinte questão: uma intervenção pode reforçar a imagem de autoritário e ditador, mas uma não intervenção pode significar que movimentos sociais como aqueles que agora parecem colocar fim ao regime de Lukashenko possa se espalhar pela Rússia.

    Nesse quadro, Putin terá que sentir a temperatura externa e interna para tomar a melhor decisão com relação ao regime. Não está descartado apenas trocar de figura no poder, mas que mantenha a política pró-Rússia que é, no fim das contas, o que realmente o interessa.

    Imprensa Russa

    Mesmo a imprensa russa, como a RT, já colocou a ditadura de Lukashenko como em um estágio final, ainda que observe que a sua última esperança esteja na proteção de Moscou e na vontade de Putin de que ele continue no poder.

    Putin, de acordo com a própria RT, ofereceu uma “vaga necessária assistência”. No discurso, a imprensa Russa coloca como ameaça a soberania da Belarus a influência de Varsóvia. Assim teríamos uma disputa entre Moscou e Varsóvia. Um discurso que tem por objetivo convencer o publico russo, pois o regime na Belarus parece estar chegando ao fim

    É o fim?

    Nesse momento, o ditador parece que conta apenas com as forças repressivas para conter a população. Será que isso será suficiente para manter a ditadura? As manifestações continuam crescendo a cada dia, bem como a violência. Nem mesmo a censura e os cortes na internet tem evitado a difusão de imagens da repressão para o mundo. A União Europeia, com protagonismo da Lituânia e da Polônia tem elevado o tom das críticas. Os próximos dias serão decisivos.

  • O Basquete na Lituânia e a Identidade Nacional.

    O Basquete na Lituânia e a Identidade Nacional.

    • O basquete na Lituânia
    • A história do basquete no Báltico
    • Basquete e o sentimento nacional

    O Basquete na Lituânia é mais do que um exporte! É a expressão da identidade nacional. O esporte e o sentimento de comunidade sempre andaram juntos. Em situações sociais ele representar o grupo, tribo, cidade estado, bairro, clube, fábrica. Formar grupos, desenvolver sentimento por ele e enfrentar o oponente está na essência do sentimento de tantos que se movem pela paixão por algum esporte. Na contemporaneidade, o esporte mobilizou, também, os sentimentos nacionais e alguns casos o sentimento de países ou grupos nacionais para os quais o direito a um Estado foi negado.


    Esse era o caso do basquete na Lituânia durante o período em que esteve ocupada pela União Soviética. Jogadores e times moveram os mais profundos sentimentos nacionais com as suas vitórias, fazendo lembrar um tempo em que a Lituânia era livre e podia ser representada com a sua seleção nacional.


    Quando a Lituânia conquistou novamente a sua independência, a seleção Lituânia pode disputar um jogo internacional carregando a sua bandeira. A explosão de sentimentos nacionais com o terceiro lugar em Barcelona em 1992 deu uma mostra de um sentimento que por décadas estava reprimido.
    Para entendermos um pouco da paixão dos lituanos pelo basquete vamos aqui recuperar alguns aspectos da história deste esporte naquele país. Focaremos neste texto na seleção nacional e suas rivalidades e deixaremos para um próximo a história dos clubes e como esses se desenvolveram e a biografia dos jogadores.


    A história do basquete lituano é muito significativa, pois o país é uma potência no esporte, mesmo com uma população diminuta. Se fizéssemos uma analogia, a Lituânia representa para o basquete mundial o que o Uruguai representa para o futebol. São pequenas potências! Entender o que a Lituânia significa para o basquete é aprender sobre a própria história do basquete.

    O basquete na Lituânia as primeiras cestas na independente.

    A história do basquete na Lituânia tem início com a primeira independência do país, em 1918, como um desdobramento da Primeira Guerra Mundial (1914 -1918) e o fim do Império Russo (1917). Já na década seguinte o esporte começou a se consolidou como prática nacional e se tornou vitorioso na década de 1930. Inicialmente, os lituanos jogavam uma variação do chamado netball que é jogado com uma bola menor e sem a tabela atrás da cesta. O esporte era praticado pelos alemães que ocuparam a região durante a Primeira Guerra Mundial. Os primeiros times formados no país eram femininos e foi naquele momento considerado um “jogo de mulheres”, já que não envolvia contato físico, como nas lutas.


    Na década de 1920, o basquete masculino, já com as regras parecidas com as atuais, começou a ser praticado pelos homens e o primeiro jogo oficial na Lituânia ocorreu em 1922. Embora tenha atraído a atenção e fosse jogado regularmente, o basquete profissional não prosperou rapidamente, pois perdia em popularidade para o futebol.


    O ponto de virada se deu em 1935. Naquele ano, ocorreu o Congresso Mundial dos Lituanos na então capital Kaunas, com o objetivo de reunir representantes das organizações dos emigrados lituanos. Para o congresso, a Comunidade Lituana de Chicago enviou diversos atletas incluindo um time de basquete com jovens jogadores que despontavam nos campeonatos do College. Com os jogos e demonstrações, o interesse dos lituanos pelo esporte começou a crescer. Os americanos-lituanos Juozas Žukas e Konstantinas Savickas decidiram permanecer na Lituânia para jogar e treinar os times do país.

    As Primeira Vitórias


    Em 1936, a Lituânia entrou para a FIBA e começou a disputar os seus campeonatos sofrendo grandes derrotas sobretudo para a Letônia, o seu maior rival. Os letões bateram os lituanos por placares como 123 a 10 e 31 a 10. Essas derrotas acabaram por produzir grandes mudanças no basquete lituano. A primeira delas foi não participar da Olimpíadas de Berlim em 1936, o primeiro ano em que o basquete se tornou um esporte olímpico.


    Na Letônia, o basquete também começou a se desenvolver na década de 1920 e com maior sucesso do que na Lituânia. Durante as décadas de 1920 e 1930, a Letônia teve um time com muitas vitórias no cenário internacional. A Federação Letã de Basquete foi fundada em 26 de novembro de 1923.


    Em 1932, foi uma das fundadoras da FIBA (Federação Internacional de Basquetebol), junto com a Suíça, Tchecoslováquia, Grécia, Itália, Portugal e Argentina. O primeiro campeonato nacional masculino foi disputado em 1924 e o feminino em 1933. Assim como na Lituânia, o desenvolvimento do basquete se deu em conexão com os Estados Unidos, pois os primeiros treinadores eram da YMCA (Young Men’s Christian Association) dos Estados Unidos.

    Seleção de Basquete Lituana, 1937


    A Letônia venceu o primeiro Campeonato Europeu de basquete em 1935 organizado pela FIBA. Como campeã, Riga sediou o campeonato europeu seguinte. Embora fosse a favorita nas Olímpiadas de Berlim, o time não conseguiu chegar às finais. O representante do Báltico que mais avançou foi a Estônia que competia internacionalmente pela primeira vez.


    Para disputar o torneio em Riga, o time lituano decidiu não contar com jogadores “americanos”, mas uma publicação na Letônia criticando o time lituano e o colocando como o pior do torneio fez com que os lituanos mudassem de ideia. Dois jogadores foram trazidos para a Lituânia: Pranas Talzūnas e Feliksas Kriaučiūnas, o último foi designado também como técnico. A manobra junto com a intensa preparação deu certo e a Lituânia venceu pela primeira vez um título europeu batendo a Itália na final.

    Como vencedora, a Lituânia organizou o torneio em Kaunas e para ele contou com jogadores descendentes de lituanos nascidos nos Estados Unidos o que gerou protestos por parte das demais delegações. A Lituânia venceu o segundo torneio derrotando a Letônia na final e o basquete se tornou o esporte nacional.


    O sonho dos lituanos era o de vencer a Olimpíadas de 1940, mas a Segunda Guerra Mundial e a invasão do país pela União Soviética adiaram esse sonho. Um sonho que só foi retomado com a segunda independência, em 1991.

    Os jogadores Lituanos no período soviético

    Com a ocupação soviética da Lituânia que passou a fazer parte da União Soviética, o time de basquete nacional foi eliminado e os principais jogadores passaram a fazer parte da seleção da União Soviética.

    Os jogadores lituanos passaram a fazer parte do time soviético a partir da olimpíada de 1952, já que a URSS não participou da de 1948, e tiveram como resultado um segundo lugar, perdendo apenas dois jogos para os Estados Unidos. Nesse time jogaram os lituanos Stepas Butautas, Kazimieras Petkevičius, Justinas Lagunavičius e Stanislovas Stonkus.

    A partir de 1969, o lituano Modestas Paulauskas se tornou o principal jogador e o capitão da União Soviética. Na Olimpíada de 1972, disputada em Munique na Alemanha, a União Soviética superou os Estados Unidos, que até então haviam vencido todas as olimpíadas, e ficaram em segundo lugar, quebrando uma hegemonia que vinha desde 1936.

    A outra derrota dos Estados Unidos para a URSS viria em Seul (1988) lembrando que os Estados Unidos boicotaram a Olimpíada de Moscou (1980) e a URSS boicotou a Olimpíada de Los Angeles (1984).

    Em 1988, a seleção da União Soviética tinha como principais jogadores de basquete os lituanos: Arvydas Sabonis e Šarūnas Marčiulionis. Eles lideraram o melhor time da União Soviética, que ainda contava com Rimas Kurtinaitis, Valdemaras Chomičius. A seleção soviética derrotou os Estados Unidos na semifinal e ganhou a medalha de ouro.

    O basquete dos Estados Unidos entrou em crise, pois apenas um ano antes foram derrotados no Pan-americano realizado em Indianápolis para o Brasil, liderado por Oscar e Pipoca.

    Diante das derrotas, os americanos decidiram que para as próximas Olimpíadas passariam a enviar os jogadores da NBA.Era o início do Dream team, liderado por Michael Jordan, Magic Johnson e Larry Bird.

    A União Soviética não sobreviveu até a Olimpíada de Barcelona, disputada em 1992, mas os principais jogadores daquele time soviético poderiam defender pela primeira vez a sua seleção nacional. A Lituânia enfrentou os Estados Unidos e seu Dream Team.

    O Basquete na Lituânia: De Volta ao Jogo!

    As Olimpíadas de Barcelona foram um momento marcante para a história dos países bálticos. Depois de quarenta anos, eles voltavam a disputar uma Olimpíada carregando as suas próprias bandeiras.


    Ao contrário dos demais países que faziam parte da União Soviética, Estônia, Letônia e Lituânia se recusaram a integrar a CEI (Comunidade dos Estados Independentes). As suas delegações não eram grandes, mas eram representativas de um sentimento nacional e de uma esperança de independência que por décadas foram suprimidas.


    Entre as atrações principais dos países bálticos estava a seleção de basquete da Lituânia. Seus principais jogadores, Arvydas Sabonis e Sarunas Marciulionis, lideraram o melhor time da União Soviética, campeão da Olimpíadas de Seul. Agora, o time soviético estava dividido, mas as suas estrelas principais comandavam a Lituânia. A Lituâniavenceu todos os seus jogos até enfrentar os Estados Unidos nas semifinais, quando perdeu de 127 a 76. Para entendermos o que aconteceu naquele jogo temos que voltar um pouco no tempo e recuperar uma história que também envolve o basquete brasileiro.


    Os Estados Unidos vinham de duas derrotas humilhantes no basquete. Em1988, na Olimpíadas de Seul, eles perderam nas semifinais para a União Soviética. Um ano antes foram derrotados no Pan-americano realizado em Indianápolis para o Brasil liderado por Oscar e Pipoca. Além do talento dos jogadores que venceram os Estados Unidos, outra questão importante que explica essas duas derrotas foi a mudança no sistema de pontuação.


    A FIBA introduziu a cesta de três pontos, enquanto os campeonatos nos Estados Unidos mantiveram o sistema de pontuação antigo. Como resultado, das duas derrotas, mudanças foram realizadas no basquete americano. Eles passaram a incluir a cesta de três pontos no College e na NBA (National Basketball Association). Pressionaram o comitê olímpico para aceitar a inscrição dos jogadores da NBA no time olímpico. Em resumo, Brasil e os jogadores lituanos atuando pela União Soviética mudaram a história do basquetebol.

    O Outro “Dream Team” De Volta ao Pódio

    Em 1992, a Lituânia passava por enormes dificuldades financeiras e o recurso para levar o time para Barcelona eram poucos. O drama dos lituanos se espalhou pelo mundo. Comovidos, a banda de rock americana Grateful Dead resolveu financiar as passagens de todo o time lituano para as Olimpíadas.


    Para Barcelona, os americanos formaram o chamado “time dos sonhos”, Dream Team, com Michel Jordan, Magic Johnson e Larry Bird. Para muitos especialistas, este foi o melhor time de basquete de todos os tempos. A superioridade era tão grande que a audiência dos jogos se dava pelos astros, pelo show, para saber quem perderia por menos pontos ou qual jogador americano faria mais cestas. Com esse time os EUA derrotaram a Lituânia na semifinal.

    Time Lituano, Barcelona, 1992.


    Para completar a história, a disputa da medalha de bronze foi conquistada contra a CEI, sendo muitos jogadores ex-companheiros de seleção e de clubes. Não importava em que lugar ficasse a bandeira nacional. Os hinos da Estônia, Letônia e Lituânia, proibidos até dois anos antes, foram tocados e os jogadores subiam ao pódio também para celebrar as independências nacionais.


    O terceiro lugar não deixou nenhum lituano triste. Ver a bandeira no pódio, a sua camiseta e a suas cores foi de uma alegria enorme para os lituanos e seus descendentes. Outro aspecto que chamou a atenção foi a camiseta utilizada no pódio.


    O artista psicodélico americano Greg Speirs presenteou o time com uma camiseta com uma caveira “enterrando” uma bola entre raios coloridos com as cores da bandeira da Lituânia. A arte foi adotada como um símbolo do basquete lituano e foi a camiseta mais vendida na Olimpíadas seguinte disputada em Atlanta nos EUA.

    Sugestão sobre o basquete na Lituânia

    O Documentário The Other Dream Team (2012) do diretor Marius Markevicius de 2012 é uma excelente obre sobre o time lituano na Olimpíada de Barcelona. Vale investir, mesmo se você não encontrar uma versão em português.

  • Pós-política: Direita e Esquerda

    Pós-política: Direita e Esquerda

    • Conceito de pós-política
    • impacto na política
    • pós-polítca e democracia

    Para compreendermos a nossa sociedade, os cientistas sociais formulam conceitos que possibilitam definir e entender características da nossa contemporaneidade. Atualmente, um conceito que começa a ser utilizado com mais frequência é o de pós-política. O que é pós-política? Como ela nos ajuda a entender o nosso momento político?

    Certamente, você já escutou pessoas afirmarem que não são: “nem de direita e nem de esquerda”. Que suas decisões e seus princípios são somente técnicos. Esse discurso, de valorização da técnica e de negação da política é o que podemos conceituar como pós-política.

    O que é a pós-política?

    A pós-política, ao valorizar a técnica, a boa gestão, a decisão administrativa, esconde no seu discurso a verdadeira opção política do indivíduo. Como se fosse possível para alguém se colocar acima das ideologias, ou acima da dela. Portanto, no discurso da pós-política, qualquer embate político e ideológico, é visto como negativo, como atraso ou desnecessário.  

    Por isso, políticos que se utilizam do discurso da pós-política tem por hábito acusar o outro de serem ideológicos. Assim, esses mesmo políticos estariam fora destes debates. Eles se consideram mais racionais e acima das disputas ideológicas.

    O problema da pós-política é que ela tem o papel de enganar aqueles que participam dela. Ela serve unicamente para mascarar um ponto de vista, uma ideologia. Assim, para esconder as verdadeiras posições diante das questões sociais. O pós-político se apresenta como técnico, quando, de fato, a sua verdadeira intenção estão dissimuladas, mascaradas, escondidas em planilhas, dados e distorções da realidade. Essa postura, tem por objetivo impedir o debate político. Sufocar as escolhas que a sociedade pode fazer.

    O debate e a Democracia

    Em uma democracia liberal, no Estado de Direito, a pós-política é perigosa, pois impede os debates de diferentes ideias, de diferentes opções que podem surgir em muito dos debates, sobre qualquer tema relacionado ao Estado ou a sociedade. A democracia, em uma perspectiva liberal, é justamente o debate, o conflito entre ideias e ideologias que se opõe e, dentro de um conjunto de regras consensualmente aceitos, disputam o seu espaço de poder sem eliminar a outra. Portanto, a anulação do debate por meio do tecnicismo, ou da negação da ideia do outro acaba por anular a própria política e por consequência a democracia.

    A consequência da pós-política é invariavelmente o autoritarismo, mesmo que disfarçado de uma democracia formal, pois a democracia precisa da política para ser efetiva. O autoritarismo, disfarçado de técnica e a negação da ideia do outro, nada mais é do que a imposição da vontade de um grupo sobre os outro. Resultando na negação, das vozes dissidentes, negando a oposição. Portanto, lembre-se, quando alguém se apresentar como neutro, como nem de direita ou de esquerda, quando alguém criticar a sua ideia como “ideológica”, está se usando a pós-política para impor a sua vontade e negar a sua voz e impor a sua vontade.

    Sugestões de vídeos e leituras.

    Vídeos:

    Artigos:

    Bucci, E. (2018). Pós-política e corrosão da verdade. Revista USP, (116), 19-30. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i116p19-30.

  • Joe Rogan e Bernie Sanders x Status Quo Democrata

    Essa semana foi um show de horrores na prévia Democrata. Sanders na frente com a primeira votação das prévias no radar mexeu com os nervos do status quo Democrata.

    Elizabeth Warren, a outra suposta candidatura progressista, tentou uma bala de prata identitária, acusando Sanders de machismo (que homem branco ainda não foi acusado de machismo levanta a mão) por uma suposta fala privada. Deu errado!

    Já Hillary Clinton foi no mesmo caminho de “ninguém que trabalhar com Sanders”. O bilionário Bloomberg jogou milhões para conseguir alguma visibilidade na mídia, com o objetivo de deter Sanders.

    Mas tudo isso ainda se somou a uma canalhice quando Joe Rogan disse que: “estou pensando em votar no Sanders”. Rogan é famoso pelos seus comentários de UFC, MMA e milhares de maravilhosas entrevistas em seu podcast Joe Rogan Experience, um dos mais escutados do mundo.

    Para quem não conhece seu podcast (e YouTube) consiste em entrevistas com os mais variados tipos de pessoas de direita à esquerda, de malucos da conspiração até físicos de Harvard. Do próprio Sanders a lutadores de MMA… Não raramente fumando vários tipos de maconha (na Califórnia é legal!) ou comendo cogumelo. Tem a famosa imagem do Elon Musck fumando que circulou no Brasil.

    Bom, a declaração de Joe Rogan foi o suficiente para gente liberal politicamente correta do status quo Democrata e da mídia descerem o pau no Sanders como, populista, diálogo com a extrema direita, etc. E como não poderia faltar uma dose de identitarismo.

    A polêmica principal se deu porque Rogan criticou lutadoras transgênicas de participarem da luta de MMA. O caso que ele se revoltou foi de uma “mulher” transgênica que sem avisar da sua mudança de sexo entrou no octógono e quebrou, literalmente, quebrou o rosto da sua adversária e ganhou as lutas.

    Rogan ficou indignado com a falta de critério e colocou a pergunta: pode alguém que treinou arte marcial e foi treinado por 32 anos como homem lutar como uma mulher dois anos depois da sua “transformação”?

    A resposta foi NÃO!

    Rogan foi criticado como transfobico e homofóbico. Alegação ridícula! Basta escutar as entrevistas que ele realizou com homossexuais e transexuais em seu programa…

    Claro, Rogan não usa o vocabulário da mídia liberal politicamente correta e fala mais como um cara do subúrbio de uma metrópole americana. Não adotou a novílingua dos movimentos identitários.

    Ele também tem alguns “defeitos” a vista dos identitários da androginia pós-moderna! Ele gosta de caçar e pescar, tem armas, fuma, bebe, prática lutas marciais, faz piada de gosto duvidoso e impróprias, elogia mulheres por sua beleza, gosta de esportes, caga para opinião alheia, acha veganismo e vegetarismo no Ocidente um modismo complicado, por assim dizer.

    No fim, o tiro saiu pela culatra! Sanders está na frente! Rogan continua com uma puta audiência. E como vemos, mais uma vez, o identitarismo sendo usado como uma arma contra a esquerda.

  • OS ROMANOV

    OS ROMANOV

    Os Romanov 1613 – 1918 de Simon Sebag Montefiore é uma obra monumental. Monumental tanto pelo número de páginas, quanto pela profunda pesquisa em documentos históricos necessárias para a sua escrita. O autor privilegiou uma análise da vida privada dos tzares, entrando a fundo em suas intimidades, entendendo suas personalidades e as relações que estabeleciam com aqueles que estavam a sua volta. Uma opção importante, pois em se tratando de uma autocracia, entender cada aspecto da vida dos tzares é relevante. Contudo, essa opção carrega problemas que merecem ser considerados.

    O jornalista e historiador Simon Sebag Montefiore é uma referência em História da Rússia, com uma produção prolífica abordando diferentes períodos. Entre as suas obras mais importantes, cabe mencionar aquelas dedicadas à biografia de Stalin: Stalin. A Corte do Czar Vermelho (Companhia das Letras, 2006) e O Jovem Stalin (Companhia das Letras, 2008). Sobre o período dos Romanov, ele escreveu duas obras: Catarina a Grande & Potemkin: Uma História de Amor na Corte Romanov (Companhia das Letras, 2018) e Os Ramanov 1613 – 1918 (Companhia das Letras, 2016).

    Nas bem escritas e fluidas 944 páginas de Os Romanov, Montefiore apresenta uma profunda pesquisa documental em que busca a vida privada e a intimidade daqueles que ocuparam a posição de tzar e tzarina (com “t”), bem como daqueles que estiveram em suas cortes ao longo dos 304 anos da dinastia Romanov.

     Dessa intimidade, o autor resgata os excessos, a vida sexual, a religiosidade, ambições, medos e a busca pelo poder. Através principalmente da análise de correspondências, Montefiore consegue uma aproximação com o cotidiano dos Romanov.  A sua forma de escrever e transcrever nos leva a pensar como aquelas cartas foram lidas. Para fazer compreender as mudanças e os lugares, o autor nos oferece descrições detalhadas das cidades, do campo, dos palácios e dos aspectos físicos dos indivíduos. Essas descrições são complementadas pela rica pesquisa de imagem que compõem o livro.

    A proposta do autor não foi realizar a biografia de cada um dos personagens que aborda. Assim, dedica partes desiguais para destacar os processos que ele entende ser mais importante da História da Rússia, mais páginas são oferecidas a Pedro, O Grande, Catarina, Alexandre II e ao Nicolau II. O livro também é desproporcional devido as fontes, quanto mais nos aproximamos da modernidade, mais as fontes escritas são abundantes e seu incurso na vida privadas se torna mais precisas.

    O leitor que não esteja familiarizado com a História da Rússia, e das dinastias em geral, pode se surpreender com a quantidade de intrigas, com a vida sexual, com os assassinatos como forma de resolver conflitos. E aqui é preciso lembrar a natureza do poder autocrata. Em um regime político no qual todas as decisões giram entorno daquele que está no trono, ficar próximo e íntimo deste significa poder, estabilidade, ascensão social e fortuna. E que forma pode-se ser mais íntimo do que a sexual? Já o distanciamento resultava no contrário e poderia levar à desgraça deportação e até a morte.

     A intimidade dos tzares, e tzarinas, é O poder! E é preciso para aqueles que o queiram disputá-lo, seja conquistando a intimidade e destruindo aquele que estejam usufruindo. Portanto, o que aos olhos contemporâneos pode aparecer apenas como um conjunto de intrigas e fofocas era justamente a disputa pelo poder. Nesse sentido, percorrer o caminho da vida privada dos autocratas é percorrer os caminhos do poder! E essa é a maior contribuição que a obra nos oferece.

    Se essa opção do autor nos leva a entender os caminhos do poder ela pode causar alguns problemas. O primeiro deles é que o autor dá muita fé aos documentos, ou seja, ele não procede uma crítica do que significa usar as cartas, por exemplo, como documentos. O leitor pode ficar com a impressão de que as cartas, por serem íntimas, representam necessariamente verdades, mas é preciso considerar que elas mesmas representam narrativas de poder.

    Outro ponto importante é a intricada relação entre as mudanças sociais e a vida íntima dos sujeitos históricos que o autor aborda. Por exemplo, há mais páginas debatendo a influência de Rasputin do que sobre as transformações econômicas e sociais que levaram a Revolução Russa. Inclusive mais destaque sobre a controvérsia do tamanho do pênis do Rasputin do que sobre Lenin ou Trotsky. O resultado é a ideia de que a queda do Império foi o resultado do conjunto de relações privadas e não fruto da inadequação do tzarismo a um mundo que se transformava. Importante observar que essa mesma questão aparece na série da Netflix para a qual Montefiore foi um dos historiadores entrevistados.

    Outro exemplo, é a forma como o autor aborda a trajetória de Lenin. Montefiore iguala as ideias revolucionárias de Lenin ao “terrorismo” dos populistas o que é de uma enorme controvérsia na historiografia. Essa controvérsia não é avisada ao leitor ou mesmo desenvolvida.

    Por fim, Montefiore tem uma tese que perpassa toda a obra, e que está pressente em seus outros livros também. Para o autor, o poder na Rússia, na sua forma autocrática, é imutável! Essa percepção de uma forma de poder e Estado essencial o permite fazer analogias e comparações com períodos históricos distintos, ao ponto de comparar tzares com Stalin e com Putin. O problema dessas comparações é perder justamente a historicidade dos regimes políticos na Rússia que tiveram (e tem) grande impacto global.

  • O Caminho do Báltico

    O Caminho do Báltico

    O que foi o Caminho do Báltico?

    Caminho do Báltico foi uma das mais belas demonstrações pacíficas de descontentamento e contestação à União Soviética unindo a população dos três países BálticosEstôniaLetônia Lituânia. A demonstração reuniu dois milhões de pessoas, ou seja, quase um quarto do total da população das três então Repúblicas Soviéticas e entrou para o Livro dos Records como a mais longa corrente humana ao cobrir um total de 600 Km. O movimento foi um dos pontos centrais no processo político que levou a independência da União Soviética (URSS)… Artigo

  • Gosta de filme e da Lituânia? Blog História da Lituânia!

    Gosta de filme e da Lituânia? Blog História da Lituânia!

    Se você gosta de filme sobre a Lituânia você vai gostar desse post no meu blog História da Lituânia.

    Depois de algum tempo voltei a escrever um pequeno texto sobre História da Lituânia lá no blog dedicado a Lituânia sobre um belo filme que tive a oportunidade de ver a estréia na AABS 2018 na Universidade de Stanford.

    Dá uma olhada lá no BlogHistória da Lituânia

    eValeu!

    Por: Dr. Erick Reis Godliauskas Zen

    Para Twitter e Instagram @erickrgzen

  • Lista de Músicas sobre o Harlem

    Lista de Músicas sobre o Harlem

    Hoje, amanheci com falta de inspiração. Acontece as vezes, mas acontece! Então, fiquei pensado em alguma coisa para escutar e recuperar a vontade de escrever e me dei conta de que depois de ter encontrado muitas músicas sobre Nova York postei poucas sobre o bairro que eu moro:  Harlem. Aqui vai uma lista de músicas sobre o Harlem

    OBS: Harlem Shake não é do Harlem!!!

    Ok! Depois eu coloco outras….

  • Músicas Sobre Nova York. É Possível Traduzi-la?

    Músicas Sobre Nova York. É Possível Traduzi-la?

    Por Dr. Erick Reis Godliauskas Zen

    Twitter: @erickrgzen

    Músicas Sobre Nova York. É Possível Traduzi-la?…Depois de um ano, quase, vivendo, morrendo, me apaixonando e odiando a organização, a loucura e caos. O concreto. O ferro! A limpeza e o lixo na rua. Os esquilos e os ratos. O rap, blues, punk, a Broadway e a vanguarda… Eu fiz uma lista de músicas sobre Nova York.

    Nova York se funde em muitas em seu ar liberal de gente que não para. Mesmo quando descansa o sujeito de Nova York inventa o que fazer. Tem que ler no parque no domingo. Jogar alguma coisa. Correr! Cuidar da saúde, ganhar dinheiro, parecer rico…

    Os protestos e as greves. A vida importa e quase não importa. O racismo, a violência, as drogas… O sonho Americano na Wall Street. A estátua da Liberdade que nos lembra da beleza da sua sociedade civil. E o Harlem. O Harlem é outra cidade… O Brooklyn já foi outra cidade! Já foi Nova York e agora parece Miami…

    Se palavras me faltam resolvi fazer uma lista de músicas. Tão caótica quanto a própria cidade! Tente gostar de alguma delas.

    Obs: E depois que eu escrevi, encontrei uma enorme lista com, supostamente, todas as músicas que citam Nova York. Confira AQUI

  • Brexit: considerações e palpites.

    Brexit: considerações e palpites.

    Por que o Brexit? 

    • Os motivos do Brexit
    • A União Europeia e o Brexit: história
    • Imigração e o Brexit

    Já que estão todos dando palpites e pitacos sobre o Brexit, aqui vão os meus.Toda a campanha Brexit foi conduzida pela direita xenófoba e com um discurso saudosista e nacionalista.

    No entanto, é importante lembrar que uma parte da esquerda sempre foi crítica à União Europeia e, mesmo o líder do Partido Trabalhista, não é lá um grande entusiasta (ou não foi durante muito tempo). Para além disso, a esquerda radical apoiou a saída e uma grande parte da classe trabalhadora também. Acrescentamos que uma grande parte da classe trabalhadora é contra as políticas migratórias.

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    Com o colapso da União Soviética em 1991, ao invés da União Europeia providenciar uma espécie de Plano Marshall que pudesse desenvolver, ou colocar a Europa Oriental nos trilhos, (como a Alemanha fez com a sua parte oriental), ela optou, baseada na teoria neoliberal, por abrir as portas do mercado para o Oriente, terminando de quebrar as empresas orientais recém ingressas no capitalismo, e permitir o fluxo da mão de obra (imigração).

    O ingresso da Polônia, principalmente, e dos países do Báltico (Lituânia, Letônia e Estônia), na União Europeia provocou uma onda interna de imigração na União Europeia. Esse fluxo se somou aos fluxos imigratórios das ex-colônias da Grã-Bretanha, já “tradicionais”, e aos refugiados dos conflitos no Oriente Médio.

    Essa imigração do leste europeu foi tão grande que na Lituânia é costume dizer que “os lituanos não estão emigrando, mas estão evacuando o país”. Assim como no caso polonês, um dos principais destinos é a Grã-Bretanha.  (sobre a Lituânia e a União Europeia ler AQUI)

    E qual é o problema do Brexit?

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    Bandeiras

    A imigração em massa foi uma estratégia do capital para depreciar o custo da mão de obra na Europa Ocidental. Na Inglaterra, a conservadora Margaret Thatcher (1925 – 2013), que governou entre 1975 e 1990, foi eliminando praticamente todos os direitos trabalhistas e os sindicatos. Seu conservadorismo social e seu neoliberalismo na condução econômica eliminaram o estado de bem estar social e privatizando todos os serviços públicos.

    A partir da década de 1990, com a imigração em massa do Leste Europeu, a mais uma abundante mão de obra, disposta a trabalhar por qualquer coisa, se acomodou a ausência de direitos trabalhistas. O resultado foi o empobrecimento da classe trabalhadora e a ampliação da desigualdade em níveis que só têm paralelos na Revolução Industrial do século XIX. Com a crise de 2008, a situação se agravou ainda mais. Vale lembrar, que a Grã-Bretanha que ainda segue a cartilha neoliberal como dogma é o único país desenvolvido que ainda não superou a crise de 2008, ao contrário da Alemanha, da França e dos Estados Unidos, por exemplo.

    As possibilidades do Brexit

    Diante desse quadro temos duas saídas possíveis:

    À direita: nacionalismo, saudosismo e xenofobia. Esses sentimentos dão a ilusão de que a mera remoção dos imigrantes resolverá o problema social, com a retomada do emprego. É uma ideia falsa! Pois removidos os direitos trabalhistas a desigualdade permanece! Ou seja, enquanto as práticas neoliberais persistirem persiste a desigualdade.

    À Esquerda: a do papel do Estado na promoção da equidade social. Aí temos um problema, pois a esquerda não sabe o que fazer com os imigrantes. De um lado, ela defende os direitos individuais e o de imigrar e o multiculturalismo (no que está certa!), mas o que fazer com essa mão de obra (imigrantes) trazida estrategicamente?

    Um problema sensível da esquerda é que ela, de uma forma ou de outra, sempre conseguiu atuar no âmbito nacional, mas não conseguiu efetivamente se organizar no âmbito internacional e menos ainda dentro da União Europeia. Jamais foi capaz de propor uma reforma igualando os direitos dos trabalhadores e a legislação trabalhista, por exemplo. Pelo contrário, como no vergonhoso caso francês é a tradicional esquerda que propôs a reforma trabalhista. O resultado final, salvo o cosmopolitismo londrino e de jovens que já nem mais conseguem se ver como parte dos “trabalhadores”: a saída foi vitoriosa.

    Depois da Euforia

    Apesar da euforia da extrema direita francesa, alemã e holandesa, o brexit não é necessariamente um indicativo da vitória da direita, ao menos na Inglaterra. A situação ali parece ser bem mais complexa. Por um lado, temos a popularidade do líder trabalhista inglês, Jeremy Corbyn. Por outro, é necessário saber se os conservadores vão conseguir se manter no poder e por quanto tempo.

    Em outras palavras quem fará a transição? Em que termos ela será feita? Quais os efeitos para a economia nos próximos meses? Nesse momento, qualquer tentativa de resposta para essa questão é apenas um chute!

    Aquele que conseguir intermediar as insatisfações sairá na frente neste processo.

    Com relação ao futuro da União Europeia, ao menos nos parâmetros em que a União está dada, será difícil se manter. É de fundamental importância lembrarmos que a estrutura de poder da União Europeia foi desenvolvida a partir de múltiplos acordos. A União Europeia foi articulada através da construção de consensos e não para a solução de crises. Na verdade, a União Europeia não tem mecanismos de solução de crises! Por isso sua movimentação e as respostas às crises são muito lentas…

    Por fim, será necessário acompanhar com muita atenção como a Grã-Bretanha vai lidar com a questão dos imigrantes. Uma política restritiva terá consequências desastrosas para outros países da União Europeia, notadamente, a Polônia e os países do Báltico.