Autor: Erick Zen

  • Segurança do Báltico em Meio às Negociações sobre a Ucrânia

    A proposta de Donald Trump de incluir concessões territoriais da Ucrânia em um possível acordo com a Rússia gerou forte reação nos países bálticos. Estônia, Letônia e  Lituânia alertaram que qualquer cessão de território sob pressão do imperialismo russo representaria um precedente perigoso, ameaçando a estabilidade europeia em uma ameaça objetiva as independências dos paises.

    Os líderes no Báltico defenderam  que a soberania e a integridade territorial da Ucrânia devem ser preservadas, pois uma solução baseada em trocas territoriais deve incentivar novas anexões orquestradas por Putin.

    Motivos para a Preocupação Báltica

    O receio dos Estados bálticos se baseia em fatores históricos e geográficos. A proximidade com a Rússia, a presença do enclave de Kaliningrado e a existência de minorias russas na Estônia e na Letôniaem, aumentam a vulnerabilidade, sobretudo, quando se considera as  estratégias híbridas, como as vistas na Crimeia em 2014.

    Para além, as declarações recentes de autoridades russas, como a do chefe da inteligência Sergey Naryshkin, indicaram que Polônia, Lituânia, Letônia e Estônia seriam as primeiras a sofrer em caso de confronto direto entre Moscou e a OTAN.

    A percepção de risco é reforçada pelo uso intensivo de propaganda e desinformação, patrocinada por Moscou (inclusive no Brasil) somado à instabilidade gerada pela guerra na Ucrânia.

    Para os paises Bálticos, qualquer concessão ucraniana abriria caminho para questionamentos sobre suas próprias fronteiras, colocando em risco segurança dos países.

    Fortalecimento Militar e Diplomático

    Em resposta a essas ameaças, os países bálticos avançam com a construção da Baltic Defence Line, uma rede de fortificações, bunkers, valas antitanque e barreiras defensivas ao longo das fronteiras com a Rússia e a com a  Belarus.

    O projeto, iniciado entre 2024,  conta com investimentos nacionais e busca financiamento da União Europeia, além de um projeto de integração com as iniciativas polonesas, como o “Eastern Shield”.

    A Estônia já iniciou a construção de valas e depósitos militares, enquanto a Letônia planeja destinar mais de €300 milhões até 2028. A Lituânia pretende acelerar sua participação ainda este ano.

    Os  gastos de defesa foram elevados para 5% do PIB, já em 2026, alcançando a meta estabelecida pela OTAN.


    O apoio da OTAN se faz cada vez mais intensa,  com a presença de batalhões multinacionais e exercícios conjuntos regulares.

    A Alemanha instalou a 45ª Brigada Blindada em solo lituano, e caças aliados seguem monitorando o espaço aéreo báltico, interceptando as insistentes incursões da aviação militar russa.

    Em agosto, a Lituânia solicitou reforços à defesa aérea da OTAN, após drones vindos de Belarus entrarem em seu território, provocando alerta de segurança, também para os civis.

    No campo diplomático, Letônia, Lituânia e Estônia articulam declarações conjuntas com outros países europeus, reforçando que qualquer negociação de paz para a Ucrânia deve incluir Kyiv como protagonista e respeitar as fronteiras internacionalmente reconhecidas.

    Essa posição foi reafirmada em fóruns internacionais e em reuniões com aliados-chave como os Estados Unidos.

    A percepção geral nos países bálticos é de que sua segurança está diretamente ligada ao desfecho da guerra na Ucrânia. Assim, defendem que qualquer acordo que premie a agressão russa colocará toda a arquitetura de segurança europeia em risco. Para eles, a linha que hoje se defende na Ucrânia é também a linha que protege Tallinn, Riga e Vilnius

    Os paises Bálticos são pequenos, tanto em extensão, quanto em números de habitantes. Carregam, ainda hoje, traumas históricos com as ocupações russas / soviéticas. Sabem pelo passado e pelo presente que sem apoio militar e Diplomático do ocidente a sua existência está objetivamente em risco, diante do Imperialismo russo.


    Referências

    Financial Times. European allies back Ukraine’s borders after Trump floats Russia land swap

    Reuters. Europe stresses need to protect Ukrainian interests ahead of Trump-Putin talks

    Wikipedia. Baltic Defence Line

    FPRI. The New Baltic Way: Assessing the Baltic Defensive Line Concept

    AP News. Poland to lead Eastern Shield project

    VoxEurop. Russia and the Baltic states: evacuation scenarios

    Reuters. Lithuania asks NATO for more air defences

  • Karol Nawrocki assume a presidência da Polônia e apresenta plano para ampliar a cooperação militar


    Novo presidente conservador quer expandir o Formato Bucareste 9, reforçar a OTAN e reposicionar a Polônia como potência regional

    Quem é Karol Nawrocki e como chegou ao poder?

    Karol Nawrocki assumiu oficialmente a presidência da Polônia esse mês (agosto de 2025), após vencer as eleições de junho com pequena vantagem no segundo turno.

    Historiador e ex-diretor do Instituto da Memória Nacional, construiu sua carreira defendendo uma leitura conservadora da história, com forte ênfase na soberania nacional e nos valores tradicionais poloneses. Sua eleição representa um realinhamento político no país, com maior protagonismo da direita nacionalista.

    A vitória de Nawrocki sinaliza uma mudança de rumo nas prioridades estratégicas da Polônia, especialmente na política externa e na segurança militar. Desde a campanha, ele vinha defendendo que Varsóvia deveria assumir um papel mais ativo na defesa do flanco oriental  da OTAN.

    Relação com os Estados Unidos e distanciamento da União Europeia

    Aliado próximo de Donald Trump, Nawrocki já indicou que pretende aprofundar a cooperação com os Estados Unidos e reduzir a influência política de Bruxelas sobre Varsóvia. Essa postura sugere possíveis atritos com a União Europeia, sobretudo em questões relacionadas ao Estado de Direito, imigração e integração econômica.

    Em seu discurso de posse no Parlamento, declarou que “os poloneses são responsáveis por construir o flanco leste da OTAN” e anunciou seu objetivo de transformar o atual Formato Bucareste 9, criado em 2015 após a invasão russa da Crimeia, em um “Bucareste 11”, incluindo países escandinavos. Essa ampliação teria como meta criar uma rede de defesa mais robusta contra ameaças vindas da Rússia e Belarus.

    Conflitos com o primeiro-ministro Donald Tusk

    O início do mandato de Nawrocki já é marcado por tensões com o primeiro-ministro Donald Tusk, líder liberal e defensor da integração europeia. As diferenças entre ambos vão muito além de posicionamentos ideológicos, envolvendo também a condução da política externa, o papel das Forças Armadas e a relação da Polônia com as instituições da União Europeia.

    Analistas políticos alertam que esse embate pode gerar impasses legislativos e comprometer a estabilidade política do país, especialmente se as divergências se intensificarem nos próximos meses.

    Impactos para a Ucrânia e para a segurança regional

    A postura de Nawrocki gera incertezas em Kiev. Embora mantenha um discurso de apoio à resistência ucraniana contra a Rússia, seu alinhamento com Trump pode levar a uma política mais pragmática, com pressão por negociações de paz. Isso levanta dúvidas sobre a continuidade de um apoio militar irrestrito.

    Ao mesmo tempo, a proposta de expandir o Formato Bucareste 9 com a entrada de países escandinavos poderia reforçar a dissuasão contra Moscou e ampliar a cooperação militar entre os membros da OTAN. Tal iniciativa colocaria a Polônia no centro da estratégia de segurança do norte e do leste da Europa.

    Um possível novo eixo de liderança na OTAN

    O plano de Nawrocki de transformar Varsóvia em um polo de liderança no flanco leste da OTAN pode reposicionar a Polônia como ator-chave na arquitetura de segurança europeia. Se bem-sucedido, o projeto aumentaria a influência política do país dentro da aliança atlântica e ampliaria sua capacidade de ação frente a ameaças regionais.

    O sucesso dessa estratégia dependerá da habilidade do presidente em equilibrar alianças externas, manter a coesão interna e administrar as inevitáveis tensões com a União Europeia. O mandato que se inicia será um teste decisivo para o futuro papel da Polônia na segurança europeia.

    Referências

    NATO. “Bucharest Nine (B9) Format and Regional Security Cooperation.” OTAN.int, 2024.

    Parlamento da Polônia. Discurso de posse de Karol Nawrocki, agosto de 2025.

    Warsaw Institute. “The Strategic Role of Poland in NATO’s Eastern Flank.” WarsawInstitute.org, 2025.

    Atlantic Council. “Poland’s Security Policy in the Context of US-Poland Relations.” AtlanticCouncil.org, 2025.

    Reuters. “Karol Nawrocki Sworn In as Poland’s New President.” Reuters.com, agosto de 2025.

  • Guerra híbrida: como a Ucrânia ataca a influência da Rússia na África


    Operações secretas, sabotagem e drones revelam como a Ucrânia enfraquece a presença russa no continente africano


    Principais pontos abordados neste artigo

    Por que a África se tornou parte da guerra entre Ucrânia e Rússia

    A presença do grupo Wagner e da Africa Corps em países africanos

    Operações de sabotagem da inteligência ucraniana

    Impactos estratégicos e geopolíticos da atuação ucraniana no continente


    A África como campo de batalha geopolítico

    Desde 2023, a Ucrânia vem expandindo sua atuação internacional com foco em minar a presença da Rússia em países africanos. Essa estratégia busca atingir os pontos vulneráveis da estrutura de poder russa fora do território europeu, especialmente em regiões onde Moscou mantém operações militares, contratos de mineração e parcerias políticas com regimes autoritários.

    A Rússia mantém bases logísticas e redes comerciais estratégicas no continente por meio do grupo mercenário Wagner, reestruturado em 2024 como Africa Corps. Ao atacar essas conexões, Kiev pretende bloquear o financiamento alternativo da guerra russa e reduzir a influência de Moscou junto ao chamado Sul Global, onde ainda conserva apoio diplomático.

    Ao tornar a África parte ativa do conflito, a Ucrânia também envia um sinal geopolítico: sua defesa envolve não só o território nacional, mas uma resposta global às estruturas de poder russas.


    Sabotagem militar e operações da inteligência ucraniana

    Sudão e República Centro-Africana como alvos prioritários

    Em novembro de 2023, uma explosão destruiu um depósito de armas da Wagner próximo a Omdurmán, no Sudão. Embora inicialmente tratada como acidente, investigações indicaram uma ação planejada pela inteligência militar ucraniana (GUR). Esse ataque foi um marco no uso de operações clandestinas fora da Europa.

    Em janeiro de 2024, um líder de segurança vinculado à Wagner foi morto em Bangui, capital da República Centro-Africana, por um drone artesanal. A ação foi atribuída a uma operação de agentes ucranianos com apoio técnico de serviços de inteligência ocidentais, seguindo a mesma lógica de precisão e discrição.

    Líbia: espionagem sobre voos russos

    Agentes ucranianos também foram infiltrados na Líbia oriental, com a missão de monitorar voos militares russos que transportavam armas e mercenários para o Oriente Médio e outras regiões da África. Foram detectados aviões IL-76, Su-24 e caças MiG operando sob disfarces civis, ampliando a rede logística russa longe da vista internacional.


    A guerra pelo ouro: estratégia econômica contra Moscou

    O ouro africano tornou-se uma das principais fontes de financiamento para a presença militar russa no continente. Minas em Mali e na República Centro-Africana, controladas por mercenários da Wagner, são utilizadas para exportar ilegalmente o metal precioso, especialmente para mercados como os Emirados Árabes.

    Em 2024, a Ucrânia obteve documentos que expuseram essa rede e compartilhou as informações com autoridades francesas e americanas. O resultado foram sanções, congelamento de ativos e apreensão de carregamentos, enfraquecendo diretamente os cofres que sustentam a atuação russa na África e em outros conflitos externos.

    Essa guerra silenciosa demonstra como o confronto se dá não apenas com armas, mas com dados e inteligência econômica.

    Mali e a guerra por procuração com drones

    A atuação ucraniana também envolve apoio a grupos armados que se opõem à presença russa. No norte do Mali, rebeldes tuaregues passaram a usar drones explosivos, com orientação técnica atribuída à Ucrânia. Essas armas permitiram emboscadas e ataques de precisão contra forças aliadas à Rússia, forçando Moscou a reforçar sua presença na região.

    Após uma série de baixas em combates indiretos, o governo do Mali anunciou o rompimento de relações diplomáticas com Kiev em agosto de 2024. A medida foi vista como resposta ao crescente envolvimento ucraniano em ações indiretas contra Wagner e Africa Corps em solo maliano.

    Esse modelo de guerra por procuração mostra como a Ucrânia está adaptando sua estratégia a contextos externos, impondo custos crescentes à expansão russa.


    Uma guerra que ultrapassa fronteiras

    A guerra entre Ucrânia e Rússia já não se limita ao Leste Europeu. O campo de batalha se estende para outros continentes, como a África, onde estruturas econômicas, rotas logísticas e alianças políticas são alvos da inteligência ucraniana. Operações cirúrgicas, vazamentos estratégicos e apoio técnico a grupos locais revelam um novo tipo de guerra híbrida.

    A Ucrânia está demonstrando que, para enfrentar Moscou, é preciso ir além do território e disputar influência global. Ao comprometer redes de financiamento e alianças militares russas na África, Kiev redefine as linhas invisíveis do conflito contemporâneo.


    Referências:

    Lawfare Media. How Ukraine is challenging Russia in Africa and the Middle East

    The Kyiv Independent. Russia has laundered $2.5 billion of African gold

    The Times. Mali cuts ties with Ukraine after drone support

    Le Monde. Ukrainian drones provide support for northern Mali’s rebels

    UCF Global Perspectives. Africa: a second front in Ukraine war

    RIDL. Russia’s chances of establishing a base in Sudan

  • Eu chorei pela Argentina.

    “Baixem as faixas, para que eu possa olhar o povo nos olhos” . Néstor Kirchner

    As imagens assustadoras de uma arma apontada para a Cristina Kirchner me cobriram de aflição. Respirei fundo, ela renasceu! Uma sorte! Me bateu uma alegria por ela ter sobrevivido, ao que poderia ter sido uma tragédia. 

    No dia seguinte, sentimentos mistos, a alegria por ver a sociedade argentina, mesmo em uma profunda crise, reagindo ao ato de violência, me alegou novamente… Alegria solapada pela frieza e certo cinismo por parte de políticos e da imprensa (propagandista) em terras brasileiras. 

    Parece, que por aqui, a apologia da violência e o desprezo à vida humana se tornaram o norte de percepções políticas que promovem o culto a arma e apologia a violência. Só faz apologia a violência quem sabe (ou tem a ilusão) de estar seguro. Não por acaso, os noticiários estão cobertos de armas de fogo disparadas nas situações mais banais. 

    Memórias argentinas

    A minha memória me levou ao momento em que vi o casal Néstor e Cristina pela primeira vez. Foi em uma manifestação no ano de 2009, ou 2010. Não estou certo da data, mas esses foram os anos que passei mais tempo em Buenos Aires.

    De 2005 até 2014 fui todos os verões e invernos para Buenos Aires e morei no segundo semestre de 2009 e primeiro de 2010, por motivos de estudo para o meu doutorado. Naquela época, a Argentina me atraia, me encantava, pela cultura, pela música, pela sociedade e política tumultuada. 

    Esses anos foram repletos de aprendizagem, de alegrias e de esperanças. Vivi em Buenos Aires nos anos em que a Argentina voltava a crescer e o pleno emprego voltou a ser próximo da realidade. Buenos Aires era uma festa! Obviamente, os problemas sociais não estavam superados e eles se faziam presentes no dia-a-dia. Para além dos problemas sociais… O ranço da elite saudosista e anti-peronista estava presente no cotidiano.

    Neoliberalismo: a causa da crise na Argentina.

    Na crise de 1999, presidentes passaram pelo poder e não se estabeleceram: cinco presidentes em uma semana. Era a imagem do colapso, resultado do neoliberalismo, das privatizações alucinadas, da dolarização da economia, da desindustrialização, dos muitos créditos fáceis oferecidos para aqueles que adotavam as políticas neoliberais defendidas pelo famigerado “consenso de Washington”. Carlos Menem foi a expressão de tudo isso! E no fim veio o colapso, pela mão dos seus sucessores.

    As políticas neoliberais causaram o que elas sempre causam: desemprego em massa e inflação. A exclusão social e a fome. O fechamento de grandes fábricas e dos centenários frigoríficos na cidade de Berisso, que conheci, eram a expressão dessa crise que cortava empregos e, principalmente, futuros. 

    Os saques aos supermercados eram diários, as greves explodiram, enquanto tecnocratas apontavam como saída confiscar os dinheiro da população que estava nos bancos para pagar o FMI, Fundo Monetário Internacional, com um plano chamado “corralito”. 

    É o neoliberalismo! É O NEOLIBERALISMO!!!!

    Nos dias 19 e 20 de dezembro de 1999, a população reagiu e as ruas foram tomadas por trabalhadores, os sem-teto, os desempregados e a classe média. Os protestos provocaram a renúncia de Fernando de la Rúa, que fugiu de helicóptero da Casa Rosada, em 10 de dezembro de 1999.

    As grandes crises na Argentina são causadas pela adoção de políticas neoliberais e empréstimos de curto prazo, que são impagáveis. Exatamente a mesma receita adotada por Macri A mesma política tem o mesmo resultado: alívio e falsa sensação de prosperidade nos primeiros meses, crises nos anos seguintes. 

    As crises na Argentina são o resultado de políticas neoliberais! Vou repetir e repetir isso! Isso é um fato! Que políticos e formadores de opinião, doutrinados no neoliberalismo dos anos 1990, tentam enganar, colocando a culpa nos governos progressistas e na esquerda. A ultrapassada e fracassada política neoliberal defendida por velhos decrépitos, lamentavelmente, ainda são os argumentos para atacar aqueles que lutam pelo mínimo de dignidade. 

    Para os doutrinados do neoliberalismo, nem a História e nem a lógica parecem ser suficientes! Os neoliberais partilham de uma fé no mercado semelhante à fé dos terraplanistas e dos anti-vacinas. 

    Repetem suas pequenas verdades e velhas fórmulas, cuja sustentação já fracassaram, tanto nos aspectos teóricos, quanto práticos. A formulação do teólogo Adam Smith, da mão invisível, como um Deus que se manifesta no mercado foi reatualizada por teólogos tecnocratas. 

    O mercado é um deus vingativo, para os teólogos do neoliberalismo que catequizam os privilegiados contra os pobres, dando fantasiosa racionalidade ao seu preconceito de classe. Do menino youtuber, no seu apartamento de classe média, do jornalista bem pago da grande mídia, dos economistas com cabeça de Python, comendo o próprio rabo, todos rezam para o deus mercado, sonhando com o afago da mão invisível, nas suas partes íntimas.   

    Do Caos à Esperança. 

    O colapso na Argentina trouxe formas de esperança que apareciam em movimentos sociais, como os “piqueteros” que cortavam (paravam) a Argentina, lembrando aos deuses do mercado que a sociedade existia. A “toma” de fábricas que se converteram em cooperativas, era outra forma de esperança de reação dos trabalhadores.

    Em meio a todos esses movimentos, emergiram os Kirchner, que de certa forma capitanearam e assumiram essas manifestações de esperança popular. Assumiram junto com a crítica ao neoliberalismo, diversas bandeiras sociais e demandas de progresso social. Nesse aspecto, não decepcionaram e é notável o progresso na legislação argentina em diversas áreas nos últimos anos.

    Na economia, as questões eram mais complexas. A Argentina, como de resto a América Latina, continuou suscetível ao comércio internacional. As dívidas pesam, sempre voltam à tona. Com as dívidas, as crises cambiais e um Estado que não consegue preservar as suas reservas. A economia, de fato, em muitos setores continuou dolarizada. Com a dolarização as crises cambiais, e daí de volta ao caos. Os Kirchners na sua luta pelo poder, não foram capazes de apresentar soluções duradouras aos problemas econômicos da Argentina.

    Os Kirchners

    Assim, como todos os governos progressistas que chegaram ao poder na América do Sul, nas primeiras décadas do século XX, os Kirchner acertaram e erraram muito. E a reação a eles também se deu da mesma forma: discurso neoliberal, ressentimento de classe, saudosismos de um passado glorificado, impulso do agro em só querer exportar e faturar, formaram um caldo perigoso que resultou em um discurso de ódio.

    As acusações de corrupção, em uma guerra através do judiciário, também foi uma fórmula usada contra os Kirchners. Assim, como aqui, o resultado lá também é de muita confusão e indefinição que tensionam o mundo político. Além de não conseguir, de fato, apontar os culpados, devido a bagunça e a politização do processo judicial.

    Para escapar das ameaças de judicialização das eleições, Cristina fez um acordo com Alberto Fernandez, o conduzindo à presidência e ela, como vice. Erraram! Nada disso deu resultados. A pandemia somada à crise internacional, pressão do FMI e dos fundos, pelo pagamento das dívidas, piorou a situação, devolvendo a economia argentina para a incerteza. Os dois se desentenderam, sobretudo com a forma de lidar a dívida e com o FMI

    Com os diversos erros e da não superação dos problemas, arrastaram a Argentina para mais uma crise econômica … O discurso de ódio cresceu. A oposição ganha voz, junto a uma mídia irresponsável e ressentida, devido a reforma na legislação de mídia, realizada nos primeiros governos Kirchners. Grande parte da mídia argentina vê os Kirchners como inimigos e os tratam como inimigos. 

    O ódio que sempre encontra um fanático, um doutrinado disposto a radicalizar. Por sorte, o atentado fracassou! 

    Olhando o povo nos olhos.

    Os Kirchner sempre mantiveram uma forte mobilização política e talvez essa seja uma característica do peronismo. Nas crises, se recorre às massas para criar uma pressão social e nos parlamentares que não conseguem fugir das manifestações, dos protestos, das demandas sociais. 

    E foi em uma dessas crises que minha memória me levou. Ao ler as notícias, lembrei de uma manifestação. Néstor Kirchner, no seu último ano de vida, na frente do Senado, diante de uma enorme massa. Eu andando de um lado para o outro, um pouco perdido, um pouco cantando músicas e hinos. Camisetas eram pintadas com o rosto da Cristina. Néstor aparece para o público que vibra. As enormes faixas sobem! Parado na frente, em voz rouca, Néstor pede… Ou melhor comanda.

    – Baixem as faixas, para que eu possa olhar o povo nos olhos!

  • Ucrânia: os erros de Putin

    Ucrânia: os erros de Putin

    Quando a agressão à Ucrânia teve início, as expectativa era que essa seria uma guerra rápida e a vitória da Rússia inevitável. Hoje, vemos um Putin derrotado, ao menos nos seus propósitos mais megalomaníacos de ocupação da Ucrânia.

    Mas quais foram os erros cometidos por Putin e seus seguidores?

    Preparei uma  lista deles:

    1 – Visão de mundo.  A invasão da Ucrânia é a consequência de uma visão de mundo sustentada pelo presidente Putin  e  seus seguidores. Nessa visão, a Rússia teria sido propositadamente fragilizada e ignorada, com o fim da União Soviética, o que daria legitimidade à ocupação da Ucrânia, como seu “espaço vital”, para usar as palavras dos propagandistas.

    2 –  Considera a  identidade nacional da Ucrânia uma  artificialidade. Nas suas peças de propaganda, buscava sempre associar o sentimento nacional ucraniano ao extremismo nazista, o que o levou a  duvidar da resistência ucraniana.

    3 – A ilusão de que os ucranianos que se identificam etnicamente como russos (que falam russo) aderiram às políticas do Kremlin. Ilusão compartilhada pelos russófilos de plantão.

    4 – Declínio do  Ocidente. A difusão da ideia de que o mundo vai ser governado por uma  aliança asiática. Assim, a União Europeia é apresentada como uma instituição frágil, incapaz de manter uma política própria e independente. A OTAN, como uma aliança que, apesar da sua expansão anti-russa, não conseguiria garantir mais a segurança dos seus membros e da Ucrânia. Aqui temos três avaliações erradas. 

    5 – Acreditar que por fornecer matéria prima, sobretudo o gás, para a Europa, essa seria incapaz de reagir. A reação foi brutal. As sanções, ao contrário das de 2014, provocaram danos na economia russa, que de aliada passou a ser dependente da China. Já a Europa, passo a passo ruma a outros fornecedores de gás petróleo, deixando a Rússia isolada. 

    6 –  A supremacia do Exército Russo. A propaganda russa, sobretudo aquela difundida pela RT e Sputnik, sempre mostraram as forças armadas russas, como modernizadas e eficientes. Imagem essa valorizada pela atuação na Síria. Como vemos, as ações militares foram ineficientes ao ponto de exigirem mudanças nos objetivos da guerra. Analistas apontam que a corrupção destruiu parte das forças russas, completamente despreparadas.

    7 – A irmandade com os ucranianos. Dentre as bobagens propagadas, a de que a Rússia evitaria a força total para não massacrar um povo com laços  históricos em comum foi a maior delas. Diante das derrotas russas, não foi possível esconder os massacres cometidos pelas forças russas. Essa irmandade não existe! Não existe ocupação imperialista civilizada. 

    8 – O desprezo do papel da Europa central e do Norte, como agentes na geopolítica. Polônia, países bálticos e escandinavos reagiram de forma dura e solidária a Ucrânia e passaram a exercer pressão tanto na União Europeia, quanto na Otan (com a já anunciada adesão da Finlândia e da Suécia), para ações mais decisivas, empregaram recursos vultosos, se abriram para abrigar a onda de refugiados, além de sistematicamente denunciarem a Rússia e os crimes cometidos. Assim, se tornaram protagonistas na geopolítica, deixando para trás as políticas francesas e alemãs.

    9 – A rebeldia da Belarus. Depois dos protestos dos anos anteriores, a Belarus pareceu totalmente dominada pela Rússia, mas uma coisa é domesticar o seu ditador, a outra a  sociedade civil. O que vimos na Belarus foram atos de sabotagem e resistência que dificultaram as operações russas a partir do país, ainda, satélite.

    10 – Desprezar Zelensky, enquanto liderança. Ao pressupor na fragilidade de Zelensky, a Rússia desprezou a sua capacidade de articular a resistência. Tomado como palhaço, se esqueceram de que, como  homem de mídia, ele conseguiu recriar a sua imagem e se colocar à frente do processo, fragilizando o discurso russo com relação à Ucrânia. Se Zelensky está longe de ser o herói propagado pela mídia ocidental é necessário reconhecer que  ele ganhou a mídia, gerou mobilização, se  apresentou como resistência. Em outras palavras, ao contrário da esperada fuga, ele se apresentou como resistência. 

    Diante de tantos erros, restou a Rússia a se tornar auxiliar em regiões já  em disputa e usar da chantagem nuclear para não reconhecer a vexaminosa derrota.

  • OTAN e a Soberania: os Tuites do Lula

    OTAN e a Soberania: os Tuites do Lula

    Logo no início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Presidente Lula foi ao twitter se posicionar sobre o conflito. Desde o início, Lula defendeu a paz e a busca por ela, em uma postura correta e digna de estadista que não deixa dúvidas ou meias palavras sobre o seu posicionamento. Apesar da postura adequada, quando Lula foi ao twitter, no dia 03 de março ele deixou uma incomoda observação que aqui gostaria de explorar, sobre a presença da OTAN na região.

    O Presidente Lula afirmou: “É inadmissível que um país se julgue no direito de instalar bases militares em torno de outro país. E é absolutamente inadmissível que um país reaja invadindo outro país.”

    Na sua soberania, um país pode aderir a aliança, união e tratado que julgar pertinente para a sua manutenção e desenvolvimento. Essa adesão é ainda mais legítima, quando são realizadas por países democráticos e no Estado de Direito. Esse foi o caso dos três membros da OTAN que fazem fronteira com a Rússia, os países bálticos: Estônia, Letônia e Lituânia.

    A adesão da Lituânia, por exemplo, a OTAN e a União Europeia foi realizada por meio de um legítimo plebiscito, após amplo debate público. Comparar a adesão a uma aliança militar a uma agressão a soberania é de uma lamentável estupidez. 

    Vale ainda acrescentar que os países bálticos convivem com sistemáticas agressão por parte da Rússia. A própria imprensa russa, como a RT e Sputnik tinha até a pouco tempo o orgulho de vincular imagem de aviões de bombardeio passando sobre os países bálticos até ser interceptado pelos aviões da OTAN, como propaganda militar. Ainda no plano militar, exercícios de guerra próximos a fronteira na terra e no mar também foram sistemáticos, bem como a instalação de bases permanentes na Belarus. 

    Além dessa forma de ataque, invasões de hacker, atribuídos a Rússia, são tão sistêmicos nos países bálticos que estes se tornaram especialistas em lidar com eles (empresas e startups de tecnologia se instalaram na região). 

    Durante a pandemia, a imprensa em idioma russo nos países bálticos fez aberta campanha contra as vacinas produzidas no ocidente criando dificuldades para a vacinação coletiva. Outros ataques de sabotagem foram realizados em empresas de transporte, como na construção do trem que liga Tallinn (Estônia) a Vilnius (Lituânia). Além das várias tentativas de intervenção em processo eleitoral, conforme acusações que circulam na imprensa dos três países.

    A postura agressiva de Putin aos seus vizinhos no ocidente é amplamente documentada e verificável. Agressividade essa a ponto de Finlândia e Suécia começarem a debater sobre a sua posição de neutralidade, mantida mesmo durante a Guerra Fria.  Lamentável, os tuites do senhor Lula sobre a Guerra na Ucrânia.

    Mesmo com a presença da OTAN, frases como: “primeiro a Ucrânia, depois o Báltico” começaram a circular. Essa tensão passou a ser tão forte a ponto dos três países terem que começarem a rejeitar a afirmativa, com medo de perder investimentos. E qual a garantia que se pode dar que eles permanecerão em paz e sem guerra? O principal argumento tem sido justamente a presença da OTAN e a integração a União Europeia. Não por acaso, o mesmo objetivo da Ucrânia.

    A paz, conforme almejada por Lula e as pessoas de bom senso, deve ser buscada, mas ela se torna difícil, quando se está em um ambiente de intranquilidade e com tantas história traumáticas de guerras e ocupações.

  • Putin e a Esquerda: Tirando o Urso da Sala

    Putin e a Esquerda: Tirando o Urso da Sala

    Nos últimos dias, com a invasão da Ucrânia ordenada por Putin, uma série de debates tem ocorrido pela mídia e pelas redes sociais. Nelas, influenciadores da esquerda tem diretamente defendido a Putin, ou usando um frágil “doisladismos”, para criticar a Otan e Putin, ao mesmo tempo. Em meio a guerra, Putin se tornou um urso na sala. Como isso pode ter acontecido?

    No final da década de 1990 e início de 2000, o desespero com o avanço do neoliberalismo chegava ao desespero. O Brasil fez a maior dívida da história do capitalismo (até então) para não quebrar, a Argentina quebrou! 

    Tínhamos medo de mais um governo neoliberal, da ALCA, quem não gritou “Alcaralho” com o FMI, não era gente! A ideia de um mercado único é devastador para as economias da A.L era uma ameaça e sentíamos o seu efeito devastador. 

    Com isso, a esquerda se aliou a qualquer coisa que se opusesse ao neoliberalismo. Foi assim que a esquerda se aproximou do militar Chávez, dos Kirchners, da China e de Putin e esse PT (meia bomba) da Carta ao povo Brasileiro. 

    Era a ideia de um movimento contra hegemônico, absolutamente necessário. Fechamos os olhos para os defeitos e problemas como uma aliança  contra uma desgraça que era (é) cotidiana. E não estava errado! Aqui não é exercício de meia culpa. Era o que tinha que ser feito e pronto! 

    O problema é que a história não fica parada e logo os defeitos, para os quais fechamos os olhos, porque já estavam lá, nos jogaram no pesadelo que vivemos. Uma China dominante, uma ditadura do Maduro, o personalismo e fracionamos do Peronismo, um Putin autoritário, homofóbico, expansionista. Agora temos que fazer a pergunta preferida da direta: E o PT hein?

    Bom, depois de três mandatos e poucos, com todas as políticas sociais e um momento de crescimento econômico, o PT não foi capaz de superar a lógica neoliberal. Ele foi uma espécie de tampa de bueiro. Quando tiraram a tampa, a sujeira e as baratas saíram para festa. Enfim, o PT continua meia bomba, agora propõem voltar ao poder com Alckmin e tudo…

    Daí temos duas possibilidades: brigar e fechar os olhos com o que está na nossa cara ou entender o processo e pensar outros caminhos. Esses caminhos podem demorar para aparecer, por agora seguimos tentando evitar o pior. Nesta busca por tentar evitar o pior, deveríamos ter aprendido as lições do começo do século e não pretender defender o indefensável.

  • Ucrânia: respondendo as perguntas que já me fizeram.

    Ucrânia: respondendo as perguntas que já me fizeram.

    Ucrânia, respondendo as pergunta que mais tenho recebido.

    Os Ucranianos não precisam ser perfeitos para terem direito a um Estado nacional independente.

    • Existem grupos fascistas na Ucrânia?

    Sim! E são perigosos para cacete! Eles chegaram a formar milícias armadas para lutar nas regiões ocupadas pela Rússia.

    • Eles representam a sociedade ucraniana?

    Não, inclusive nas últimas eleições a extrema direita não elegeu parlamentares. Partido de extrema direita não tem voto na Ucrânia, ao contrário de todos os países da Europa Ocidental.

    • O governo Ucraniano é fascista ou nazista?

    Não! E é curioso que o único governo no mundo (fora Israel) que tem Presidente e Primeiro Ministro judeus seja chamado de nazista.

    • Mas o governo da Ucrânia não deveria ter combatido os grupos extremistas?

    Sim, o problema é que como eles enfrentaram os separatistas russos (financiadora e apoiados pelo Kremlin) e a entrada do exército da Ucrânia poderia começar uma guerra com a Rússia. As milícias extremistas foram frente nos combate, o que significou sim produzir vítimas civis nas regiões ocupadas pela Rússia.

    • Isso deu certo?

    Como você está vendo, deu muito errado!

    • O governo da Ucrânia tomou medidas contra a população russa, praticou extermínio de russos?

    Não! Embora tenha reforçado o ensino e as escolas Ucranianas e colocado idioma ucraniano como centro das suas políticas, pois os governo anteriores, por serem fantoches da Rússia, deixavam a russificação do país comer solta. Lembrando. O presidente da Ucrânia é da comunidade russa e o ucraniano é o seu segundo idioma. Ele teve que melhorar o ucraniano para disputar eleições. Seu último apelo para o Putin foi em russo em rede nacional.

    • Por que Putin fala em defesa dos russos?

    Putin faz questão de confundir interesses do Kremlin com o da população russa. Quando Ucrânia, Letônia e Estônia, combatem a influência do Kremlin, Putin faz o discurso de que a população russa nesses países estão ameaçadas.

    • A guerra é para combater o fascismo?

    Não! A guerra se dá pelo expansionismo do imperialismo russo e por estratégia de disputa geopolítica.

    • Então, por que se fala tanto em Fascismo?

    Propaganda Russa, oportunismo e saudosismo soviético. Vale lembrar que taxar de nazista qualquer manifestação política e / ou cultural era parte da técnica de propaganda soviética, para justificar a eliminação.

    Gostaria de lembrar que o fascismo, o nazismo e o antissemitismo são forças políticas atuantes e perigosas em todo o continente europeu. Basta você olhar as eleições na França, por exemplo, que tem dois candidatos de extrema direita disputando (um perdeu apoio por nomeações estranhas no seu gabinete). Mas a Le Pen tá lá… E temos que torcer para o Mácron vencê-la.

    Portanto, a extrema direita é sim um problema europeu e muito perigoso, mas não é “A” grande questão para entender a invasão da Ucrânia, pela Rússia.

    • Devemos considerar o presidente da Ucrânia um herói?

    Não! Esse papo de herói na política nem deveria existir. Ele sim surpreendeu pelas posturas que tomou e soube muito bem lidar com a comunicação, o que é um fator importante. Ele teve a habilidade de criar uma momentânea unidade nacional, o que sim é um mérito. No entanto, é preciso tomar cuidado com diversas decisões que tomou, como, por exemplo, usar milícias e liberar criminosos. Ainda que seja guerra e sobrevivência, não é qualquer coisa que passa a ser aceitável.

    • Por que os reacionários no Brasil falam em “ucranizar” o Brasil?

    Porque os reacionários são burros. Eles pegaram os grupos fascistas na Ucrânia e sua simbologia e copiaram como se fosse a realidade do país e não de grupos políticos milicianos.

    • Por que o Sérgio Moro falou em tribunal como na Ucrânia?

    Sei lá! Eu tenho dificuldades e pouca paciência para entender as lógicas e não lógicas deste senhor e também pouca paciência com as suas exposições e entrevistas.

    Sobre o judiciário na Ucrânia, podemos dizer o seguinte de forma bem simplificada. Como os governos anteriores na Ucrânia eram ligados à oligarquia russa (incluindo o judiciário) e envolvidos nos processos de privatização e em esquemas de corrupção, o governo da Ucrânia teve que refazer as suas instituições (inclusive o judiciário) para poder diminuir o poder da oligarquia russa e poder assim punir aqueles que estavam controlando na base dá corrupção a economia e a sociedade da Ucrânia. Como você percebe não é possível tirar disso analogias com o Brasil, ao menos no meu entender.

    Por fim, mas não menos importante, o Brasil vive um momento político complicado, mas isso não significa que o universo gire em torno da nossa disputa eleitoral, portanto não tente encaixar a Ucrânia na lógica da política brasileira, ou a lógica da política brasileira na Ucrânia.

  • Ucrânia x Putin: E Os Russos?

    Ucrânia x Putin: E Os Russos?

    Compreender o comportamento da sociedade civil na Rússia, diante da invasão da Ucrânia, é uma tarefa difícil. O controle estatal russo da comunicação e a repressão do Kremlin a qualquer manifestação dificulta o acesso a informação. Ainda assim, mesmo com o controle da mídia e o bloqueio das redes sociais, as imagens de manifestações, as declarações de intelectuais, atletas e personalidades, mostram como a sociedade civil não é homogênea com relação a invasão da Ucrânia e existe oposição e resistência ao governo de Putin.

    Resistir ao governo Putin é um ato de coragem, pois as prisões de opositores e manifestantes são recorrentes na Rússia. Ao que se sabe mais de dois mil manifestantes foram presos, nos últimos dias. No momento em que eu escrevo esse texto, é possível ver manifestações na contra o presidente, até mesmo em Moscou. Cenas de prisões estão vazando pela internet. Tem manifestação na praça Pushkin, nesse momento.

    A guerra não é popular entre os russos, principalmente entre os jovens. Eles estão mais preocupados com a crise econômica, desemprego, Covid, ausência de liberdade e democracia. Observe que na TV russa, o presidente Putin, só falou sobre guerra na última hora, nos últimos dias, e teve que recorrer a um passado quase mítico para justificá-la. Ele sabia que no presente não encontraria apelos, nem mesmo com as teorias da conspiração que circulam por aqui. Na realidade, foi proibida a palavra guerra e passaram a utilizar eufemismos para se referir a ocupação da Ucrânia.

    Essa observação, e apoio aos opositores russo, é importante, pois precisamos urgente acabar com esses estereótipos construídos na Segunda Guerra Mundial e na propaganda antissoviética da Guerra Fria de que russos gostam de guerra, são guerreiros natos e destruidores.

    O que é mais estranho é ver essa imagem da propaganda americana da guerra fria sobre a Rússia, sendo cultuada como se fosse a realidade de um povo. Como se os russos fossem guerreiros bárbaros vindos do oriente para afrontar o ocidente. Essa imagem, reforça um sentimento de russofobia que confunde governo, com povo, com cultura.

    Existe um processo de essencialização da identidade, como se a política adotada por Putin fosse uma expressão da cultura russa, e não o resultado de interesses governamentais e geopolíticos. Basta um conhecimento mínimo das expressões artísticas e da cultura da Rússia para perceber o quanto essa está distante da imagem da Rússia que se construiu nos países ocidentais, principalmente no que diz respeito a guerra.

    Tirando os jogadores de War, CS, Airsoft, etc. ninguém gosta de guerra. Esse bando de playboy com caras armas de mentira para se fingirem de soldado nunca vão lutar em um exército de fato. Quando muito, o airsoft serve apenas para lidarem com seus problemas de afirmação da masculinidade.

    O que as guerras produziram na Rússia foram traumas, dor, memórias que até hoje são difíceis de lidar. A dor da tragédia vivida pela Rússia nas guerras foi tão intensa que a se romantizou o sofrimento para conseguir lidar com ele e não para cultuar a morte e a destruição. O culto a guerra, obedece aos interesses de um governo autoritário, com vocação imperialista.

    Nesse momento, os boicotes a participação da Rússia em eventos culturais internacionais são legítimos, para demonstrar o repúdio a agressão violenta do governo. No entanto, é preciso tomar cuidado para que essas ações não se generalizem e se perpetuem, provocando um “cancelamento” do que a Rússia tem de melhor e ainda correr o risco silenciar justamente as manifestações culturais que se opõem ao governo Putin e a sua visão reacionária de mundo.

    Se você está do lado dos senhores da guerra, você está do lado dos interesses econômicos e geopolíticos, mas está distante do povo russo e distante do que é a Rússia. As vozes de oposição ao Putin precisam ser escutadas. Vamos combater estereótipos! Pois eles são apenas propaganda. O que os russos e ucranianos desejam é paz.

    PAZ!

  • Países Bálticos: os desafios de 2022

    Países Bálticos: os desafios de 2022

    Nos últimos anos, a região dos países Bálticos ganhou apenas algumas poucas linhas na imprensa nacional. No entanto, diversos aspectos que envolvem esses países são importantes para geopolítica da Europa e da Rússia e, em alguns aspectos, globais. 

    Aqui vou apontar alguns aspectos para os quais devemos prestar atenção esse ano e que pretendemos acompanhar e analisar por aqui. 

    1 –  A relação entre os países Bálticos e a Rússia. Novamente um ponto de tensão, sobretudo, porque junto com a Polônia são os países que têm trabalhado junto a oposição da Belarus e também da Ucrânia, duas áreas de interesse da Rússia. 

    2 –  A questão dos imigrantes e refugiados na  fronteira da Belarus. Por um lado, a Belarus está usando a imigração em massa como forma de pressionar os países Bálticos e a Polônia, por outro uma questão humanitária se abre na fronteira com os refugiados do  oriente  médio (na maioria curdos) que  buscam por refúgio. 

    3 – A relação entre os países bálticos, em especial a Lituânia, no conflito que se estabelece entre  Rússia e  Ucrânia, pois a Lituânia tem sido um apoio, inclusive militar, para a Ucrânia. 

    4 – A relação com o governo polonês. A Polônia tem suas políticas extremistas cada vez mais criticadas pela União Europeia. No entanto, é a principal aliada, em questões geopolíticas, aos países Báltico e todos eles dependem da União Europeia. 

    5 – A Lituânia diante das pressões chinesas e o estabelecimento de  relações comerciais e diplomáticas com Taiwan. Como a Estônia e a Letônia vão se posicionar nesse embate e eles com a  União Europeia? 

    6 – Eleições parlamentares na  Letônia. Como sempre, a tensão está na presença de uma crescente extrema direita e na influência russa. 

    7 – Novo governo alemão e a relação entre os países Bálticos, sobretudo na relação com a Rússia, entre as questões o gasoduto que passa pelo mar Báltico. 

    8 –  A integração entre os países Bálticos, tanto na área militar, quanto nos esforços para a melhoria de transporte e infraestrutura. 

    9 – O crescimento dos casos de Covid, como lidar com a pandemia e ao mesmo tempo buscar a integração e recuperação econômica.

    10 –  A relação entre os países Bálticos e os Estados Unidos, a política do presidente Biden para a OTAN, Ucrânia, Belarus e China e como essas vão afetar os Bálticos.