Crise do modelo nórdico: Suécia e Finlândia diante do fim do Estado de bem-estar social


O modelo nórdico de bem-estar social sempre foi visto como referência mundial em igualdade e qualidade de vida. No entanto, as crises recentes na Suécia e na Finlândia levantam dúvidas sobre sua sustentabilidade. Esses países enfrentam não apenas dificuldades conjunturais, mas um desafio estrutural que pode marcar o fim do Estado de bem-estar social. A questão central é: Será que é possível conciliar justiça social, equilíbrio fiscal e competitividade econômica na atual dinâmica do capitalismo?

Histórico do modelo nórdico

Construído no pós-guerra, o modelo nórdico baseou-se em altos impostos, redistribuição de renda e serviços públicos universais.

Suécia e Finlândia transformaram-se em símbolos globais de saúde gratuita, educação de excelência e baixa desigualdade.

Durante décadas, prosperidade industrial e inovação tecnológica garantiram recursos para sustentar esse arranjo. O consenso era de que o modelo nórdico seria replicável e sustentável, mas os sinais de fragilidade começaram a aparecer nas últimas duas décadas.

Motivos das crises atuais

A globalização expôs vulnerabilidades ao reduzir empregos estáveis e pressionar salários. O envelhecimento populacional elevou custos de saúde e aposentadorias.

Na Suécia, o endividamento das famílias e a bolha imobiliária colocaram a economia em recessão.

Já na Finlândia enfrenta déficits persistentes e dívida crescente, respondendo com austeridade: cortes em benefícios sociais, aumento de impostos e redirecionamento de recursos para defesa.

Nos dois casos, o modelo de proteção universal está sob tensão.

Em 2025, o PIB sueco recuou, prolongando a recessão. O setor de construção e o consumo doméstico caíram, enquanto sindicatos denunciam deterioração de hospitais, escolas e lares de idosos.

Na Finlândia, o Banco Central prevê crescimento de apenas 0,5% em 2025 e dívida pública chegando a 87,5% em 2026. O déficit permanece próximo de –3,7% do PIB, mesmo com cortes.

Politicamente, a Suécia busca ajustes graduais, enquanto a Finlândia vive polarização: partidos de esquerda ganharam espaço e populistas de direita perderam apoio.

Perspectivas para o futuro

O modelo nórdico enfrenta dilemas profundos. Se ainda garante sociedades mais igualitárias do que a média europeia, já mostra sinais de erosão.

A longo prazo, ou será capaz de inovar em formas de financiamento, preservando sua essência, ou caminhará para uma versão reduzida, seletiva e menos universal.

A crise em Suécia e Finlândia funciona como um alerta: até mesmo os países mais bem avaliados em desenvolvimento humano não estão imunes às pressões fiscais e geopolíticas que desafiam o Estado de bem-estar social no nosso século.

Referências

Le Monde. Sweden’s social model is on its last legs. 2024.

OECD. Economic Survey Sweden 2025.

Reuters. Finland’s Thatcher tests limits of local frugality. 2024.

The Guardian. The left is rising, and the far right is reeling in Finland. 2025.

European Commission. Economic Forecast Finland 2025.

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