Alerta no Caribe. As novas disputas geopolíticas.

O Caribe como prioridade estratégica

Desde o início de 2025, o governo Trump voltou a colocar a América Latina e Caribe no centro de sua política externa. A região, considerada uma extensão natural da segurança norte-americana, é hoje apresentada pela Casa Branca como a “primeira linha de defesa” contra cartéis de drogas e fluxos migratórios. Trump marca, assim, uma volta ao continente que recebeu menos atenção, desde o governo Bush.

A decisão de enviar destróieres, submarinos e cerca de 4.000 militares para patrulhar águas caribenhas representa o maior movimento naval dos EUA na região desde a Guerra Fria. Oficialmente, trata-se de uma operação antidrogas, mas na prática, ela é o retorno da projeção militar americana.

Para entendermos esse movimento, vamos analisar as tensões com a Venezuela e Cuba, a crise imigratório com o Haiti, bem como as novas alianças.

Venezuela,  narcotráfico e Petróleo.

O alvo principal é a Venezuela. Washington acusa Nicolás Maduro e altos oficiais de chefiar o chamado “Cartel de los Soles”, supostamente responsável por canalizar cocaína colombiana por meio da Venezuela até rotas marítimas do Caribe, com destino aos Estados Unidos e Europa.

Trump elevou a pressão oferecendo US$ 50 milhões de recompensa pela captura de Maduro e ampliando sanções. Caracas reagiu mobilizando 4,5 milhões de milicianos e denunciando uma “campanha de guerra híbrida” norte-americana.

A geopolítica da acusação vai além das drogas: enfraquecer a influência venezuelana significa também atacar o Petrocaribe, mecanismo que durante duas décadas garantiu petróleo subsidiado a vários países da região, ampliando a influência de Caracas no Caribe.

A presença de viar destróieres e  submarinos nas proximidades da costa do país, aumentaram as especulações sobre uma possibilidade de intervenção direta. O fato é que Maduro nunca esteve tão pressionado e cercado. Essa pressão pode ter efeitos internos e fragilizar ainda mais o seu governo. A queda de Maduro é inegavelmente o maior propósito de Washington, resta saber como e quando ela se dará.

As recentes descobertas de grandes reservas de petróleo na Guiana, lideradas pela ExxonMobil, transformaram o pequeno país caribenho em um novo polo energético global. Os EUA veem a Guiana como uma alternativa estratégica ao petróleo venezuelano, fortalecendo investimentos e parcerias para garantir acesso preferencial à produção futura. Essa guinada energética também reposiciona o Caribe no mapa da geopolítica global, com Washington atuando para consolidar sua presença diante da crescente importância do Atlântico Norte e da Bacia do Caribe.

Em paralelo, a Venezuela mantém sua reivindicação histórica sobre a região de Essequibo, rica em petróleo e atualmente sob jurisdição guianense. A disputa territorial, intensificada pelas novas descobertas, gera tensões diplomáticas e militares entre Caracas e Georgetown.

Para os EUA, a questão é dupla: enfraquecer a posição de Maduro e, ao mesmo tempo, consolidar um aliado energético confiável no Caribe. Assim, o petróleo se converte em mais um campo de disputa pela influência norte-americana na região.

Nos últimos meses, Nicolás Maduro intensificou sua retórica sobre o Essequibo, chegando a ameaçar a anexação da região e a realização de exercícios militares próximos à fronteira. Essa postura não apenas eleva o risco de confronto direto com a Guiana, mas também gera preocupação no Brasil, que compartilha fronteira tanto com a Venezuela quanto com a área disputada.

Brasília teme o impacto de uma escalada militar, particularmente, em Roraima e no norte amazônico, ao mesmo tempo em que observa com atenção a exploração do petróleo da margem equatorial, vista como o próximo grande ativo energético brasileiro.

A sobreposição dessas tensões coloca o Brasil em posição ainda mais delicada, entre a defesa da estabilidade regional e a proteção de seus próprios interesses estratégicos no setor de energia, com mais uma potencial crise com o governo Trump a vista.

Cuba e o retorno do isolamento

Cuba voltou a ser classificada por Washington como Estado patrocinador do terrorismo. Além do embargo renovado, Trump planeja transformar Guantánamo, a base militar / prisão que detinha pessoas acusadas de terrorismo e de serem membros de grupos radicais islâmicos,  em um grande centro de deportação de migrantes, com capacidade para até 30 mil pessoas.

As medidas afetam diretamente o equilíbrio caribenho, pois muitos deportados são haitianos e centro-americanos enviados para Cuba contra a sua vontade. A política gera críticas de organizações internacionais e aumenta as tensões entre Havana e Washington.

Cuba tem sofrido por mais de uma década com a escasses de recursos e o empobrecimento. Notícias de descontentamentos populares por falta de itens básicos e as crescentes quedas de energia, mostram que o regime atravessa enormes dificuldades que, mesmo com apoio de aliados, como Rússia e China, a ilha não tem conseguido superar.

O Haiti e a crise migratória

O Haiti, já fragilizado por instabilidade política e violência há decadas, sofre forte impacto com a nova política migratória dos EUA. Deportações em massa pressionam um país sem capacidade de absorver o retorno de milhares de cidadãos, agravando a crise humanitária.

Esse movimento reforça a dimensão geopolítica da migração. Washington projeta sua influência não apenas por meio de operações militares, mas também pelo controle sobre fluxos populacionais no Caribe.

Esse controle populacional provoca crises econômicas e políticas nos paises de origem. Vale lembrar que os recursos enviados por emigrados são parte importante da economia destes países e que a imigração servia como uma válvula de escape para as tensões econômicas e sociais.

Novas alianças no Caribe

Apesar das tensões, alguns governos caribenhos, como República Dominicana e Jamaica, reforçam a cooperação com os EUA em segurança marítima e antidrogas. A maior presença da Guarda Costeira norte-americana é vista como forma de proteção, mas também aumenta a dependência da região em relação a Washington.

Ao mesmo tempo, países como Trinidad e Tobago mostram cautela, temendo perder acesso ao petróleo venezuelano. O Caribe encontra-se, assim, dividido entre alianças pragmáticas com os EUA e preocupações com o risco de desestabilização regional.

O Caribe volta a ser palco de uma disputa geopolítica clássica. A estratégia de Trump combina pressão militar, isolamento diplomático e reconfiguração migratória, buscando restabelecer a hegemonia norte-americana na região.

Entre alianças pragmáticas e tensões abertas, os pequenos Estados caribenhos enfrentam um dilema: alinhar-se ao poder dos EUA ou tentar preservar margens de autonomia frente a um cenário de crescente rivalidade. As tensões se ampliaram em 2025 e tendem a moldar o futuro dos países nos próximos anos. Entre regimes cambaleantes e crises humanitárias o caribe é uma parte importante da reconfiguração geopolítica do governo Trump.

Referências

AP News,  US destroyers head toward waters off Venezuela as Trump aims to pressure drug cartels

El País,  EE UU despliega 4.000 militares en aguas de América Latina y el Caribe para perseguir a los carteles

El País, Maduro moviliza a cuatro millones de milicianos como respuesta a los destructores enviados por Estados Unidos

WOLA, Qué implica una segunda administración Trump para América Latina

NUSO, Trump y América Latina y el Caribe: un laboratorio de control

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