Guerra híbrida: como a Ucrânia ataca a influência da Rússia na África


Operações secretas, sabotagem e drones revelam como a Ucrânia enfraquece a presença russa no continente africano


Principais pontos abordados neste artigo

Por que a África se tornou parte da guerra entre Ucrânia e Rússia

A presença do grupo Wagner e da Africa Corps em países africanos

Operações de sabotagem da inteligência ucraniana

Impactos estratégicos e geopolíticos da atuação ucraniana no continente


A África como campo de batalha geopolítico

Desde 2023, a Ucrânia vem expandindo sua atuação internacional com foco em minar a presença da Rússia em países africanos. Essa estratégia busca atingir os pontos vulneráveis da estrutura de poder russa fora do território europeu, especialmente em regiões onde Moscou mantém operações militares, contratos de mineração e parcerias políticas com regimes autoritários.

A Rússia mantém bases logísticas e redes comerciais estratégicas no continente por meio do grupo mercenário Wagner, reestruturado em 2024 como Africa Corps. Ao atacar essas conexões, Kiev pretende bloquear o financiamento alternativo da guerra russa e reduzir a influência de Moscou junto ao chamado Sul Global, onde ainda conserva apoio diplomático.

Ao tornar a África parte ativa do conflito, a Ucrânia também envia um sinal geopolítico: sua defesa envolve não só o território nacional, mas uma resposta global às estruturas de poder russas.


Sabotagem militar e operações da inteligência ucraniana

Sudão e República Centro-Africana como alvos prioritários

Em novembro de 2023, uma explosão destruiu um depósito de armas da Wagner próximo a Omdurmán, no Sudão. Embora inicialmente tratada como acidente, investigações indicaram uma ação planejada pela inteligência militar ucraniana (GUR). Esse ataque foi um marco no uso de operações clandestinas fora da Europa.

Em janeiro de 2024, um líder de segurança vinculado à Wagner foi morto em Bangui, capital da República Centro-Africana, por um drone artesanal. A ação foi atribuída a uma operação de agentes ucranianos com apoio técnico de serviços de inteligência ocidentais, seguindo a mesma lógica de precisão e discrição.

Líbia: espionagem sobre voos russos

Agentes ucranianos também foram infiltrados na Líbia oriental, com a missão de monitorar voos militares russos que transportavam armas e mercenários para o Oriente Médio e outras regiões da África. Foram detectados aviões IL-76, Su-24 e caças MiG operando sob disfarces civis, ampliando a rede logística russa longe da vista internacional.


A guerra pelo ouro: estratégia econômica contra Moscou

O ouro africano tornou-se uma das principais fontes de financiamento para a presença militar russa no continente. Minas em Mali e na República Centro-Africana, controladas por mercenários da Wagner, são utilizadas para exportar ilegalmente o metal precioso, especialmente para mercados como os Emirados Árabes.

Em 2024, a Ucrânia obteve documentos que expuseram essa rede e compartilhou as informações com autoridades francesas e americanas. O resultado foram sanções, congelamento de ativos e apreensão de carregamentos, enfraquecendo diretamente os cofres que sustentam a atuação russa na África e em outros conflitos externos.

Essa guerra silenciosa demonstra como o confronto se dá não apenas com armas, mas com dados e inteligência econômica.

Mali e a guerra por procuração com drones

A atuação ucraniana também envolve apoio a grupos armados que se opõem à presença russa. No norte do Mali, rebeldes tuaregues passaram a usar drones explosivos, com orientação técnica atribuída à Ucrânia. Essas armas permitiram emboscadas e ataques de precisão contra forças aliadas à Rússia, forçando Moscou a reforçar sua presença na região.

Após uma série de baixas em combates indiretos, o governo do Mali anunciou o rompimento de relações diplomáticas com Kiev em agosto de 2024. A medida foi vista como resposta ao crescente envolvimento ucraniano em ações indiretas contra Wagner e Africa Corps em solo maliano.

Esse modelo de guerra por procuração mostra como a Ucrânia está adaptando sua estratégia a contextos externos, impondo custos crescentes à expansão russa.


Uma guerra que ultrapassa fronteiras

A guerra entre Ucrânia e Rússia já não se limita ao Leste Europeu. O campo de batalha se estende para outros continentes, como a África, onde estruturas econômicas, rotas logísticas e alianças políticas são alvos da inteligência ucraniana. Operações cirúrgicas, vazamentos estratégicos e apoio técnico a grupos locais revelam um novo tipo de guerra híbrida.

A Ucrânia está demonstrando que, para enfrentar Moscou, é preciso ir além do território e disputar influência global. Ao comprometer redes de financiamento e alianças militares russas na África, Kiev redefine as linhas invisíveis do conflito contemporâneo.


Referências:

Lawfare Media. How Ukraine is challenging Russia in Africa and the Middle East

The Kyiv Independent. Russia has laundered $2.5 billion of African gold

The Times. Mali cuts ties with Ukraine after drone support

Le Monde. Ukrainian drones provide support for northern Mali’s rebels

UCF Global Perspectives. Africa: a second front in Ukraine war

RIDL. Russia’s chances of establishing a base in Sudan

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