Quando a agressão à Ucrânia teve início, as expectativa era que essa seria uma guerra rápida e a vitória da Rússia inevitável. Hoje, vemos um Putin derrotado, ao menos nos seus propósitos mais megalomaníacos de ocupação da Ucrânia.
Mas quais foram os erros cometidos por Putin e seus seguidores?
Preparei uma lista deles:
1 – Visão de mundo. A invasão da Ucrânia é a consequência de uma visão de mundo sustentada pelo presidente Putin e seus seguidores. Nessa visão, a Rússia teria sido propositadamente fragilizada e ignorada, com o fim da União Soviética, o que daria legitimidade à ocupação da Ucrânia, como seu “espaço vital”, para usar as palavras dos propagandistas.
2 – Considera a identidade nacional da Ucrânia uma artificialidade. Nas suas peças de propaganda, buscava sempre associar o sentimento nacional ucraniano ao extremismo nazista, o que o levou a duvidar da resistência ucraniana.
3 – A ilusão de que os ucranianos que se identificam etnicamente como russos (que falam russo) aderiram às políticas do Kremlin. Ilusão compartilhada pelos russófilos de plantão.
4 – Declínio do Ocidente. A difusão da ideia de que o mundo vai ser governado por uma aliança asiática. Assim, a União Europeia é apresentada como uma instituição frágil, incapaz de manter uma política própria e independente. A OTAN, como uma aliança que, apesar da sua expansão anti-russa, não conseguiria garantir mais a segurança dos seus membros e da Ucrânia. Aqui temos três avaliações erradas.
5 – Acreditar que por fornecer matéria prima, sobretudo o gás, para a Europa, essa seria incapaz de reagir. A reação foi brutal. As sanções, ao contrário das de 2014, provocaram danos na economia russa, que de aliada passou a ser dependente da China. Já a Europa, passo a passo ruma a outros fornecedores de gás petróleo, deixando a Rússia isolada.
6 – A supremacia do Exército Russo. A propaganda russa, sobretudo aquela difundida pela RT e Sputnik, sempre mostraram as forças armadas russas, como modernizadas e eficientes. Imagem essa valorizada pela atuação na Síria. Como vemos, as ações militares foram ineficientes ao ponto de exigirem mudanças nos objetivos da guerra. Analistas apontam que a corrupção destruiu parte das forças russas, completamente despreparadas.
7 – A irmandade com os ucranianos. Dentre as bobagens propagadas, a de que a Rússia evitaria a força total para não massacrar um povo com laços históricos em comum foi a maior delas. Diante das derrotas russas, não foi possível esconder os massacres cometidos pelas forças russas. Essa irmandade não existe! Não existe ocupação imperialista civilizada.
8 – O desprezo do papel da Europa central e do Norte, como agentes na geopolítica. Polônia, países bálticos e escandinavos reagiram de forma dura e solidária a Ucrânia e passaram a exercer pressão tanto na União Europeia, quanto na Otan (com a já anunciada adesão da Finlândia e da Suécia), para ações mais decisivas, empregaram recursos vultosos, se abriram para abrigar a onda de refugiados, além de sistematicamente denunciarem a Rússia e os crimes cometidos. Assim, se tornaram protagonistas na geopolítica, deixando para trás as políticas francesas e alemãs.
9 – A rebeldia da Belarus. Depois dos protestos dos anos anteriores, a Belarus pareceu totalmente dominada pela Rússia, mas uma coisa é domesticar o seu ditador, a outra a sociedade civil. O que vimos na Belarus foram atos de sabotagem e resistência que dificultaram as operações russas a partir do país, ainda, satélite.
10 – Desprezar Zelensky, enquanto liderança. Ao pressupor na fragilidade de Zelensky, a Rússia desprezou a sua capacidade de articular a resistência. Tomado como palhaço, se esqueceram de que, como homem de mídia, ele conseguiu recriar a sua imagem e se colocar à frente do processo, fragilizando o discurso russo com relação à Ucrânia. Se Zelensky está longe de ser o herói propagado pela mídia ocidental é necessário reconhecer que ele ganhou a mídia, gerou mobilização, se apresentou como resistência. Em outras palavras, ao contrário da esperada fuga, ele se apresentou como resistência.
Diante de tantos erros, restou a Rússia a se tornar auxiliar em regiões já em disputa e usar da chantagem nuclear para não reconhecer a vexaminosa derrota.